AVISO: A informação disponibilizada neste site tem como data de referência o ano 2002 e pode encontrar-se desactualizada.


[Os quartos de aluguer possuem como único mobiliário a banheira em cimento. (foto LeonorAreal)]

 

Época termal
De 24 de Junho (dia de S. João) a Setembro (sem dia de encerramento, dependente do número de aquistas).

Indicações

Aparelho digestivo e reumatismo (populares).
"Uma prima desta senhora que há vinte anos que bebe desta água, já a mãe dela bebia por causa de uma úlcera no estômago e tratava-se com esta água." (aquista)
"As pessoas vêm pelo reumatismo, problemas de ossos, mas esta água também é boa para limpar o estômago." (João Domingos, encarregado dos banhos)
Ouvimos a mesma indicação numa primeira visita ao local, fora da época balnear. Aqui se encontrava um senhor que faz um curioso negócio: aluga a carrinha para o transporte de pessoas oriundas da freguesia de Santana da Serra (Ourique), a 100 km deste local, na sua maioria idosos, que recolhem esta água duas a três vezes por ano, utilizando-a para o aparelho digestivo: "O que eu sinto é que faz bem à máquina cá por dentro. Quando uma pessoa bebe bem no outro dia sente-se assim inchado por dentro, e quando bebo desta água fico que é uma maravilha. Pode beber que esta água não pesa, não enche nada, antes dá é apetite à gente." (motorista)
Na segunda visita, encontrámos aquistas que procuravam esta água para o reumático e artroses, mas aproveitavam a estadia para essa limpeza digestiva, bebendo e confeccionando as refeições com a água, “que é boa e faz bem”.
"A nossa fé é que ajuda a fazer bem."

"Aquilo que a gente gosta ajuda a fazer bem. Quando uma pessoa faz uma coisa sem gosto, até parece que tudo corre mal. É isso mesmo a gente gosta e isso já ajuda a fazer bem." (diálogo entre aquistas)

 

Tratamentos/ caracterização de utentes

O encarregado dos banhos, sr. João Domingos, e um auxiliar bombeiam a água da nascente, aquecem-na e transportam-na para as banheiras, o que não é tarefa fácil, já que da nascente ao local de aquecimento a fogo directo vão 20 m. Depois de aquecida é transportada em baldes para as banheiras que se encontram nas duas construções a 30 e a 40 m. "Cada banho leva 12 baldes, metade fria e metade quente." (auxiliar do Sr. Domingos)

"As pessoas que vêm cá são de Beja (distrito) e da serra algarvia. Antigamente isto tinha muito pessoal, faziam cabanas de palha por aí abaixo e do outro lado, agora são só dois ou três casais." (João Domingos, encarregado dos banhos)

 

Instalações/ património construído e ambiental

Neste local da Ribeira de Oeiras há um vau de passagem para veículos, e a montante uma poltra para a passagem de pessoas, a jusante da nascente. O local da nascente é no próprio leito da ribeira, num pequeno poço de secção rectangular (70 x 50 cm). A água emerge de uma fissura da rocha a 1,5 m de profundidade, num caudal que deverá rondar os 20 litros/minuto (pelo tempo de encher 50 l). "Entre 5 a 10 minutos é o tempo de encher aí o poçozito, mas quando tem muito peso da água já demora mais a sair." (João Domingos, encarregado dos banhos)
Na margem direita, a 20 m da ribeira, encontra-se o local onde se aquece a água, dois muros baixos em pedra paralelos, sobre os quais se colocam bidões de 200 litros para onde a água é bombeada. A uma distância de 30 m, a uma cota mais elevada, encontram-se três casas, em bom estado de conservação. Uma destas casas é actualmente utilizada como armazém e as outras duas servem de alojamento aos aquistas, num total de 10 quartos cada um, com a banheira de cimento a nível inferior ao chão.
É também nesta margem que se encontra o pequeno bar do sr. Domingos e o recente parque de merendas da junta de freguesia.

Na margem esquerda encontram-se mais duas casas. A primeira tem um pátio com parreira, caiada anualmente; a outra é um balneário em ruínas, com três tinas em cimento.

 

Natureza

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Alvará de concessão

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Historial

Com uma curta menção em "Águas e Termas Portuguesas" (1918: 15): “No concelho de Mértola existem várias nascentes de águas minero-medicinais, sulfurosas, uma na margem esquerda do Guadiana, muito próxima da sede de concelho; outra na chamada Ribeira de Oeiras, da freguesia de S. João dos Caldeireiros, a 12 km da vila; e outra ainda na mesma ribeira, próximo ao chamado Monte das Mourenas."
O sr. João Domingos é rendeiro da herdade que confina com as nascentes. Na época balnear faz a sua exploração, que consiste na bombagem da água mineral do local onde emerge para o local onde é aquecida a fogo directo e no transporte em baldes desta água para as banheiras que se encontram dentro dos quartos que também aluga. O sr. Domingos tem cerca de 30 anos e continua uma tradição de família: "O meu pai morreu vai fazer 6 anos, mas isto já vem dos meus avós. Estas casas foram feitas no tempo deles, para aí há uns 70 anos."
As casas foram construídas nas décadas de 1930-40 pelos proprietários das herdades que confinam com a nascente, como zona balnear e terapêutica para seu gozo e de seus amigos, a crer no testemunho de uma aquista: "Estas casas são muito velhas, são dos donos desta herdade daqui. Fizeram isto para eles, mas depois foram para as praias boas e deixaram estas para a gente. Eles não moravam cá, estavam nos montes deles e vinham para aqui para tomar banho da água santa."
Mas é de crer que existiu uma coabitação dos “donos da herdade” com os aquistas populares, ou pelo menos isso se depreende do testemunho de outra idosa, aquista de "segunda geração": "Naquele tempo [dos pais] só havia aquelas casas, depois os donos da herdade é que mandaram fazer estas coisas, mas a maior parte do pessoal fazia aqui a barraca para dormir."
A exploração do sr. Domingos fica na margem direita da Ribeira de Oeiras, com o seu serviço de banhos e um pequeno bar. Na da margem esquerda houve em tempos outra exploração, actualmente com o balneário em ruínas.
Mas o sr. Domingos não é não o único a tirar rendimento da exploração desta água: "Isto é público, não podem proibir de levar água, nem eu nem ninguém. O João está aqui a fazer os banhos, mas eu tiro água e toda a gente que quiser tira água." (aquista)
Já mencionámos o motorista que encontrámos numa primeira visita, cujo negócio consistia em alugar a carrinha a moradores de Santana da Serra para aqui virem buscar água. Uma actividade semelhante foi mencionada por uma das aquistas contactadas na segunda visita: “E a água que levam daqui, é o dia inteiro a encher. Eu até tenho impressão que é para fazer negócio. O ano passado vinha aqui um senhor com bidões grandes, vinha duas vezes por semana, aquilo não pode ser tudo para beber, e para banhos também é demais, aquilo deve ser para fazer negócio."

Em 2004 a Junta de Freguesia de S. João de Caldeireiros, com o apoio do Programa Leader + , mandou construir uma zona de merendas junto da Ribeira de Oeiras, conforme reza a placa: “Parque de Merendas da Água Santa da Herdade de Santa Maria/ 2004/ Património: F. de S. João de Caldeireiros”. Este parque consiste numa série de mesas e bancos em cimento, à sombra de esteiras de canas, onde crescem uns tímidos plátanos. A zona, segundo um dos testemunhos, é bastante procurada ao fim-de-semana: "Aquelas barracas foi a junta de freguesia que fez. Isto ao domingo é uma aldeia, compram um cebo, e assam-no aí em família. Foi a junta que mandou fazer isto, porque toda a gente vinha aqui comer e sentavam-se aí pelas pedras, o pessoal foi falar com a junta e eles fizeram essas mesas. Há 15 dias houve para aí uma festa, encheu-se aí de pessoal. A electricidade aqui é dessa geradora." (aquista)

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Alojamentos

"Aqui tenho quartos com banheiras, são umas seis naquela casa, mas na outra tenho mais quatro." (João Domingos encarregue dos banhos)
Estes quartos são alugados sem mobiliário ou qualquer tipo de equipamento, devendo o aquista transportar a cama e todo o mais de que sinta necessidade para a sua temporada termal.

"A gente gosta de estar aqui porque é saudável, o ar é bom, mas não tem comodidades, temos de trazer tudo, a roupa de cama, os fogões para cozinhar, aquelas bilhas pequenas que dão para luz e para fazer o almoço e jantar. Pagamos 4 euros o banho e 3,50 euros a casa, penso eu, o meu marido é que faz as contas, eu não sei bem. Não é caro, numas termas pagávamos vinte vezes mais." (aquista)

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Recortes

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Bibliografia

Calado 1995, Águas e Termas Portuguesas 1918

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Dados gerais

Distrito
Beja

Concelho
Mértola

Freguesia
S. João dos Caldeireiros       

Povoação/Lugar
Banhos da Fonte Santa - Herdade de Santa Maria 

Localização
Na EN 267, no sentido Mértola-Almodôvar, 3 km depois de S. João dos Caldeireiros, toma-se um estradão para norte que liga a Martinhanes, onde há uma pequena placa indicando “Fonte Santa”, que se encontra a 1,5 km.  

Província hidromineral
A / Bacia hidrográfica do Rio Guadiana      

Zona geológica
Zona Sul Portuguesa

Fundo geológico (factor geo.)
Grupo Flysch do Baixo Alentejo (xistos). Permeabilidade média 

Dureza águas subterrâneas
200 a 400mg/l CaCO3

Concessionária

Balneários populares e quartéis de aquistas de exploração particular, feita pelo sr. João Rosa Domingos, morador em Martinhames.

Telefone
968960903

Fax
n.d.

Morada
Caixa 46, S. João de Caldeireiros, 7750 Mértola

E-mail / site

n.d.

 


Recolha de água em finais do Inverno.



A imergência de água no pequeno poço(foto LeonorAreal) 



Banheira pública, na margem esquerda da ribeira (já sem uso) (foto LeonorAreal) 



O sistema de aquecimento da água para os banhos(foto LeonorAreal)