AVISO: A informação disponibilizada neste site tem como data de referência o ano 2002 e pode encontrar-se desactualizada.


[A rua principal, com o velho balneário à direita]

 

Época termal
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Indicações

Tratamento de doenças de pele e reumatismo

"Era para a sarna e para tudo de pele. A água também servia para curar os olhos, chegavam aqui pessoas com os olhos quase fechados e todos inchados, com as peles a caírem,  quando saíam daqui iam com os olhos limpos" (informante).

Tratamentos/ caracterização de utentes

Desde meados dos anos 60 que não são utilizadas. Nas suas instalações havia somente banhos de imersão para doenças de pele. Segundo o nosso guia ao local, sr. Renato Castelhano,  "havia também duche, eu ainda fiz, a água regava cinco ou seis ao mesmo tempo".

 

Instalações/ património construído e ambiental

Em 1861, o aproveitamento das águas mudou completamente. Abandonou-se a ermida de S. João do Deserto com a sua nascente no interior da capela e alguns banhos anexos, e construíram-se as novas instalações termais 1 km para jusante, no barranco da Água Azeda.
Nesta renovação construiu-se uma nova capela de raiz, também dedicada a S. João do Deserto, e um balneário, que no interior contava com seis banheiras e uma zona de duches (segundo o informante). A cerca de 30 metros resta um pano de parede da antiga hospedaria ou quartel dos aquistas, da mesma época de construção.
A 100 m para jusante do barranco há um grande tanque que guardava as águas de descarga das minas, que daqui eram conduzidas para o balneário.
Na parte traseira do edifício encontra-se uma cisterna, que segundo o informante servia de depósito das águas utilizadas no banho, que daqui eram lançadas na ribeira anexa. É uma construção em cimento, devendo corresponder à renovação feita no final da década de 1950.
No final dos anos 1950 a junta de freguesia, com o apoio da câmara, construiu novos balneários, com 12 casas de banho (6 para cada sexo), e foi também construído um jogo de seis construções cúbicas encaixadas umas nas outras, possivelmente para hospedagem de aquistas e serviços. Foram ainda renovadas as captagens de água, que passou a ser canalizada do grande tanque por “aqueduto” de fibrocimento para o depósito. "Aquelas construções foram da Junta, com o apoio da Câmara, para fazer novos banhos (12 banheiras), gastaram ali milhares de contos mas depois abandonaram isto tudo. Isto era para estar uma coisa linda mas deixaram isto tudo." (informante).

Actualmente todas estas construções e muitas barracas construídas entre elas servem de residência a ciganos, que não estavam presentes na ocasião da visita, pois tinham sido expulsos pela GNR recentemente (segundo o informante). Mas todas as portas se achavam fechadas por fortes correntes com cadeados

 

Natureza

Sulfatada, arsenical e aluminosa mista (Contreiras 1937)

Sulfatada (ambiente metalífero) (Calado 1992)

 

Alvará de concessão

1948 – Alvará de 16 de Setembro de 1948, publicada no DG n.º 261, III Série, de 27 de Novembro.

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Historial

Foi encontrada uma tábula de bronze, com duas inscrições, as quais tinham várias epígrafes e na “III - Balnei Fruendi” ( Acciaiuoli 1944, II: 32).
A história da nascente está ligada à da mina de S. João do Deserto, explorada no período romano, redescoberta no século XVI e novamente abandonada, ressurgindo como exploração mineira no século XIX, pela Companhia de Mineração Transtagana..  
Francisco Henriques no Aquilégio (1726) denomina-a de "Fonte Emetica", e acrescenta: “Emetico já se sabe que é o mesmo de vomitório [..]. Tudo isto se acha na água de uma fonte que corre dentro da Ermida de S. João do Deserto [...] é uma água crassa e tão ingrata que nenhum animal a bebe; e pela sua austeridade, ou aspereza, lhe chamam água azeda. Mas tem muitas virtudes medicinais: porque bebida, é um excelente vomitório, pronto, e eficaz, com que se curam sezões, e se curarão muitos outros achaques a que vomitar seja remédio. É remédio de chagas, ainda que antigas, e de todos os males cutâneos, até da lepra, no que há inumeráveis experiências."
Estas propriedades das águas foram também relacionadas nas Memórias Paroquiais de 1758.     
Tavares escreveu em 1810 que “Um quarto de légua distante da Vila de Aljustrel está a Ermida chamada S. João do Deserto. Ao entrar nela, no meio da parede do lado esquerdo há uma fonte que, sai de uma rocha que, lhe serve de alicerce, cuja água por áspera, decididamente austera e ingrata não se pode beber, e bebida, ainda em pequena quantidade, é um violento emético e sumamente pronto.”    
O lugar da nascente foi propriedade de António Lobo Camacho “que após a Convenção de Évora-Monte foi obrigado, por manejos políticos, a vender, ficando os banhos a pertencer à Junta da Paróquia” (Lobato 1983). Na mesma época foi formada a Companhia de Mineração Transtagana, à qual ficaram anexados os banhos.   
Na "Revista Universal Lisbonense", foi publicado em 1844 um artigo, segundo o qual um doente atacado com bubões obteve melhoras (cit. Acciaiuoli 1944, II: 137).
No "Zacuto Lusitano" publicou-se em 1848 uma descrição destes banhos, da autoria de Guilherme Couto  (cit. Acciaiuoli 1944, II: 144).
Oliveira Pimental faz, em 1852, uma descrição de critica mordaz sobre as instalações das Águas de São João do Deserto: “Até 1840 nenhuma comodidade havia: fez-se uma subscrição e, com esse dinheiro, o prior de Aljustrel, mandou construir dois tanques, em uma casa que está contígua à Ermida, e para ela fez convergir a água que nasce dentro da ermida [...] Mais tarde foram edificados mais dois banhos, contíguos aos primeiros, apenas separados destes por um tabique [...] O serviço destes banhos é imundo e repugnante: os banhos só são despejados e limpos de dias a dias, às vezes com intervalos de semanas. Apenas um doente sai,  logo outro entra, e, como as banheiras tem capacidade para isso, entram, de uma só vez, de duas a quatro pessoas, que ali ficam em intimo contacto...” (cit. Acciaiuoli 1944, II: 153).
Guilherme Couto (1849) fará outra crítica sobre esta água, dizendo que “tomada em alta dose produz sintomas de envenenamento” (ibidem).
Em 9 de Junho de 1852, a Junta Geral do Distrito de Beja comunicava ao Governo a necessidade da edificação dum hospital ou albergaria e a presença de um facultativo que regulasse o uso terapêutico daquelas águas (cit. Acciaiuoli 1944, II: 154).
Neste mesmo ano Silva Beirão publica o seu relatório médico sobre a aplicação desta água em leprosos do Hospital de São Lázaro em Lisboa.
Em 1855, a exploração de uma mina de chumbo perto das nascentes diminui o seu caudal. O inspector das obras públicas do Governo Civil de Beja ordenou ao empresário explorador da mina, que extraísse com baldes água do poço necessária ao tratamento dos doentes, até lhe serem indicadas as obras necessárias (cit. Acciaiuoli 1944, II: 158).          
Em 1861 é apresentada à Câmara de Deputados um projecto de lei para autorizar a despesa de 3.000$000 réis destinada à construção de um balneário. É então abandonado o local da nascente e demolido o seu precário estabelecimento termal, construindo-se um outro, 1 km a norte, junto do Barranco da Água Azeda, passando-se a usar a água da caleira de esgoto mineiro. Deste estabelecimento chegaram a nós as ruínas da capela, o edifício do balneário (com intervenções posteriores), o tanque de armazenamento de águas (a 100 m dos balneários, com uma das paredes totalmente demolida) e uma parede da antiga hospedaria.

Pelos meados deste século, a junta de freguesia fez ali um louvável trabalho de modernização, mas talvez por falta de apoio essa tentativa não teve grande futuro” (Lobato 1983). Nos anos 1960 já tudo estava abandonado, mantendo-se por alguns anos a tradição do “Banho de 29”, quando moradores de Aljustrel se reuniam na tarde e noite de 29 de Agosto, para um banho que valia por sete. Relembrado nostalgicamente por um idoso que nos acompanhou na visita: “Se agora arranjassem isto, dizia-se que iam recomeçar os Banhos de 29 e vinha tudo, até  as velhotas todas, vinham à mama do namoro, depois casavam

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Alojamentos

Actualmente só existem residenciais e pensões em Aljustrel, mas até ao encerramento das termas havia seis habitações de aluguer no local.

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Recortes

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Bibliografia

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Dados gerais

Distrito
Beja

Concelho
Aljustrel

Freguesia
Aljustrel       

Povoação/Lugar
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Localização
A cerca de 2 km de Aljustrel. Ao sair da vila pela EN para São João de Negrilhos, junto do cemitério toma-se o estradão à esquerda, que se cruza com uma linha férrea 200 m à frente; segue-se ainda cerca de 1,5 km pelo estradão de brita e as termas vão surgir do lado esquerdo.  

Província hidromineral
A / Bacia hidrográfica do Rio Sado      

Zona geológica
Bacia Terciária do Sado

Fundo geológico (factor geo.)
Junto do complexo vulcano-silicioso da faixa piritosa   

Dureza águas subterrâneas
0 a 100 CaCO3 mg/l

Concessionária

Uso popular / sem uso

Telefone
n.d.

Fax
n.d.

Morada
n.d.

E-mail / site

n.d.

 

 


Ruínas da capela de S. João do Deserto



R
uínas do balneário “novo”