Tipo de exploração:
Água para lavagens
Natureza da água:
Sulfúrea sódica
Indicações:
Doenças músculo esqueléticas, dermatoses
[A nascente de Cavez na margem esquerda do Tâmega (foto Leonor Areal)]
Época termal
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“O povo utiliza-a em doenças de pele vindo buscá-la em panelas, cântaros, etc., e tempos houve em que os doentes do hospital de Braga vinham aqui tomar banho. Segundo a tradição os efeitos eram mais notáveis desde que o doente lançasse rio abaixo as roupas interiores que trazia vestidas.” (Almeida 1988)
Esta tradição ainda se mantém, vendo-se em redor da fonte diversas peças de roupa abandonadas, não só roupa interior, mas calças, camisas, saias e blusas espalhadas no canavial que separa a nascente do rio Tâmega.
Tratamentos/ caracterização de utentes
A utilização da água para lavagens de partes do corpo é uma constante ao longo do ano, mas é sobretudo na Festa de S. Bartolomeu que se recorre a esta água, para lavagens no local ou para a transportar para casa em garrafões: "As festas são dia 23 e 24 de Agosto. Nesse dia a água é muito mais forte, até se cheira ali do alto da ponte. No dia da Festa é uma coisa por demais, aquilo para chegar lá baixo à fonte são preciso horas. Aquilo faz uma procissão dali até lá abaixo que é um Deus que me livre! Ela é boa para fazer os curativos, mas é o tal caso, para fazer os curativos tem de ser com fé. Não é chegar lá e lavar e ir embora. Já houve uns que vieram a dizer que aquilo cheirava a água das fossas. Isto não é assim, as pessoas tem que ir lá abaixo lavar-se, virem aqui ao santo e rezarem e tudo isso. Ou ao contrário, vir primeiro aqui rezar e depois lavar, ou levar garrafões para casa, tem é de ser com fé." (feitor da Quinta da Casa da Ponte)
Instalações/ património construído e ambiental
A escadaria que agora desce da ponte até ao local da Fonte Santa resultou do pagamento de uma promessa por um emigrante que se curou com estas águas. Trata-se de uma escada em cimento, com corrimão em tubo de ferro, com uma extensão aproximada de 80 m, concluída em 1992. O local do que Tavares (1810) chamou de Campo das Caldas não é mais de um lameiro de beira-rio com cerca de 10 m de largura. O penedo de onde emergia a água adivinha-se a três metros por detrás da bica de água, estando ocupado por uma construção em pedra seca, que deve servir para sustentação das terras.
No terreiro da fonte a água corre de uma bica, com razoável caudal, para uma pia de pedra, transbordando desta para o rio a cerca de sete metros. Um magro canavial serve de cortina aos banhistas para o lado do rio, mas serve também como local de abandono da roupa dos romeiros-aquistas.
Natureza
Sulfúreas férreas frias (24º) (Correia 1922)
Sulfúrea sódica, fluoretada, silicatada, hipotermal (Almeida 1988)
Sulfúrea sódica (Calado 1995)
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Henriques refere no "Aquilégio Medicinal" que “defronte de uma ermida de S. Bartolomeu, está uma fonte de água sulfúrea como se deixa conhecer no cheiro de enxofre [...] e há notícias de que naquele sítio houvera Caldas muy frequentadas de enfermos, para as quais se fizeram um hospital, com a dita ermida [...] principalmente no dia de São Bartolomeu, com que ou por milagre dele, ou por virtude da água se curam dos ditos males".
Tavares descreve a água em 1810 como “água diáfana de cheiro e sabor sulfúreo que, conservada na boca por algum tempo, deixa sensação de leve aperto.[…] sendo evidentemente sulfúrea, pertence ainda mais às frias do que às tépidas, e de nenhuma forma às quentes […] A sua primeira origem é uma grande penedia no sítio do Campo das Caldas, donde por canos de pedra em distância de poucas braças vem cair num pequeno tanque […] Ainda permanece a tradição, e nenhum outros vestígios, de um hospital para onde de Braga eram enviados enfermos para serem tratados ” .
É também citada por Lopes (1892: 349), que refere a tradição de no local ter existido um hospital, do qual “não resta o menor vestígio”.
Almeida (1988) diz que “é larga a bibliografia histórica desta fonte, até Camilo várias vezes se refere ao local pois teria assistido a muitos encontros destemidos de varapau entre minhotos e transmontanos, sendo frequente a festa de S. Bartolomeu acabar com mortos”.
O rio Tâmega fazia aqui fronteira entre as duas províncias, ficando a capela do lado minhoto e a Fonte Santa na margem transmontana, o que estará na origem das rivalidades. A ponte foi construída no século XIII por Frei Lourenço Mendes, da Ordem dos Pregadores de Guimarães, que aqui foi sepultado (“Esta é a ponte de Cavez, aqui jaz quem a fez”), e renovada no reinado de D. Manuel, conservando a traça do século XVI.
Quanto à capela, pertence à Quinta da Casa da Ponte e é obra barroca, onde se venera uma imagem deste santo e se guardam ex-votos de romeiros-aquistas. A festa de 23 e 24 de Agosto, onde se despende cerca de "3 mil e tal contos", é muito concorrida, sendo organizada pelo feitor da Quinta.
O mesmo feitor é da opinião que o hospital não se localizava junto da fonte, mas sim nas próprias casas da quinta, que formam uma pequena praça defronte da capela. Todo o conjunto tem seguramente uma raiz de construção muito anterior à reforma barroca, sendo por isso mais provável esta hipótese do que a sua localização na margem do rio, em terrenos periodicamente inundados.
"Antigamente o que fazia a divisão com Trás-os-Montes era o rio. Portanto diziam que o Santo pertencia àquela parte e que os do lado de cá os roubaram, diziam que ele tinha aparecido lá na fonte, que é do outro lado do rio. Depois houve a tradição da festa meter sempre aquela pancadaria. Os daqui tinham o santo mas não iam à água, os dacolá iam à água mas não vinham ao santo. Agora é que não. Do lado de lá também é Cabeceiras. Agora dali até Arosa e há divisão de Gaivões é tudo Cabeceiras." (feitor da Quinta da Casa da Ponte)
Quartos no Café Cá te Espero. Tel. 253654275
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Acciaiuoli: 1936; 1937; 1940; 1941; 1942; 1944; 1947;1948a;1948b; 1949-50; 1953. Almeida 1988, Calado 1995, Correia 1922, Henriques 1726, Lopes 1892, Tavares 1810
Freguesia
Cavez
Povoação/Lugar
Quinta da Casa da Ponte
Localização
Na margem esquerda do rio Tâmega, defronte da capela de S. Bartolomeu ( na outra margem), quando este é atravessado pela ponte da EN 206. A nascente fica 80 m a jusante da ponte.
Província hidromineral
B / Bacia hidrográfica do Rio Douro
Zona geológica
Maciço Hespérico - Zona Centro Ibérica
Fundo geológico (factor geo.)
Rochas magmáticas ácidas intrusivas (granitóides)
Dureza águas subterrâneas
0 a 50 mg/l CaCO3
Concessionária
Uso popular e sacro
Telefone
n.d.
Fax
n.d.
Morada
n.d.
E-mail / site
n.d.
“Das termas aos "spas": reconfigurações de uma prática terapêutica”
Projecto POCTI/ ANT/47274/2002 - Centro de Estudos de Antropologia Social e Instituto de Ciências Sociais