AVISO: A informação disponibilizada neste site tem como data de referência o ano 2002 e pode encontrar-se desactualizada.


[A construção piramidal do Tanque da Fonte de São Lourenço (foto Leonor Areal)]

 

Época termal
15 de Junho a finais de Setembro (fora desta época o tanque de banhos está aberto para a população local)

Indicações

Doenças de pele e reumatismo são as principais patologias tratadas com esta água.

Tratamentos/ caracterização de utentes

“É bastante apreciável a frequência destas caldas pelos famosos resultados aqui obtidos em doenças de pele, doenças digestivas e doenças reumáticas.
Não há direcção clínica. A entidade concessionária é a junta de Freguesia, sem recursos para uma digna exploração que as belezas panorâmicas e as singulares propriedades das águas tão bem mereciam” (Almeida.1970)
A exploração precária a cargo da Junta de Freguesia de Pombal ainda se matem, actualmente uma técnica de balneoterapia dá apoio aos tratamentos balneoterápicos  de banhos de imersão num tanque colectivo (do séc. XVII), duas banheiras individuais de imersão, uma banheira dupla de imersão, e uma banheira de hidromassagem. Os preços praticados vão dos 2€ banho individual no tanque, aos 4,5€ para a hidromassagem.
São sobretudo frequentadas por moradores da região de origem rural, que aqui se deslocam diariamente. Mas existem também aquista ou pouco de toda a região Norte, que buscam estas águas sobretudo pela sua fama no tratamento das doenças de pele.

Com uma média anual de 3000 banhos, o que dará uma média de cerca de 350 aquistas.

 

Instalações/ património construído e ambiental

Acciaiuoli (1942) descreveu os banhos,  referindo dois balneários, um de banhos frios explorado pela Junta de Freguesia, e outro de banhos quentes adjudicado nesse ano à firma Campilho Gonçalves & C.ª, “ o balneário dos banhos frios consta de um tanque com 1,70x1,10m tendo o edifício 3,40x3,60. O outro tem 2 quartos cada um com uma banheira, uma nova esmaltada (banhos de 1ª) e outra de zinco (banhos de 3ª). À entrada há um caldeiro onde a água é aquecida.”  
Almeida (1970) descreveu do seguinte modo as várias emergências: “As nascentes são numerosas e podemos considerá-las por quatro grupos de diferente importância e caudal. Grupos do Regato compreendem as duas surgências de água sulfúrea tépida dum e do outro lado do pequeno arroio. São as nascentes do Penedo e do Silvado, nomes que referenciam os locais de onde irrompem. O Grupo do Banho, constituído pela Piscina, Bica de fora e Balneário é o único praticamente utilizado. A Piscina é de pequena dimensões e fica dentro de um edifício em forma de capela, brotando a água por debaixo de uma imagem de São Lourenço. O caudal é notável, desprende-se um forte cheiro sulfúrico e, no Inverno, a água quente sai do edifício em vagas de vapor.
Desta mesma surgência fez-se uma derivação para a bica que corre do lado de fora, junto do Balneário.Este é uma pequena construção, anexa ao edifício da piscina, com duas banheiras de lusalite, podendo a água, que nasce a 29º ser aquecida por gás de botija.
As Caldas Velhas estão praticamente abandonadas. São um conjunto de nascentes, com as mesmas características, de que apenas algum doente mais pobre às vezes se utiliza.
Junto à linha-férrea, correm, ainda perdidos, alguns pequenos fios de água sulfurosa sem qualquer aplicação”.
O Balneário descrito por Almeida (1970) está actualmente em ruínas, conserva ainda as velhas banheiras, as de lusalite foram cimentadas e uma outra de esmalte. No início da década de 90 a Junta de Freguesia construiu um outro edifício, contando com 4 cabines (3 de imersão e uma hidromassagem). Também nessa época e sobre a orientação do Prof. Ramiro Valentim num pré-fabricado anexo foi instalado um gabinete para tratamentos: ORL, duche de jacto e um outro para o tratamento hemorroidal, todos desactivados actualmente.
O lugar de São Lourenço consta de pouco mais de uma vintena de casas, construídas em função do aproveitamento terapêutico das suas águas (aluguer de quartos e algumas residências particulares), boa parte das quais abandonadas e algumas em avançado estado de ruína. São na sua maioria construções modestas de piso térreo em pedra e piso superior em alvenaria, de finais do séc. XIX inícios do XX, onde não falta a varanda em madeira corrida na sua fachada.
A recuperação do local com fins termais deveria proteger essa arquitectura, e respeitar a traça em novas construções que se determine necessário criar, como novos balneários bem apetrechados. Quanto a alojamentos parece-me que a simples reconstrução e apetrechamento do existente será suficiente para a procura actual de aquistas.   
Mas é o relevo do local que o torna único, a encosta íngreme sobre o rio Tua, as montanhas que se deslumbram, por cima do horizonte da outra margem, o silêncio, o tempo que parece parado, tornam São Lourenço num local mágico. Saibam os vários proprietários do local a Junta de Freguesia e a Câmara Municipal criar um projecto comum onde os diferentes interesses sejam respeitados.

Em 2006 foi aprovada a construção da barragem do Baixo Tua, São Lourenço ficará voltada para um vasto espelho de água formado pela albufeira. Debaixo das águas ficaram as abruptas ravinas para o Tua, as chamadas Caldas Velhas e a simpática linha de caminho-de-ferro do Tua.    

 

Natureza

Sulfúreas, hipertermais (36º) (Correia, 1922).Subgrupo das Sulfúreas sódica, fluoretada, mesotermal. Alcalino sódicas (Almeida.1970).Sulfúrea sódica (30º) (Calado, 1992).Mesotermal , fracamente mineralizada. Bicarbonatada sódica, fluoretada, sulfidratada, contendo uma concentração de sílica que contribui com 13% para o total de sólidos dissolvidos…. É portanto uma sulfúrea do sub-grupo de pH inferior a 8.35. ( Estudo físico-quimico das águas das termas de S. Lourenço, Direcção Geral de Geologia e Minas, Janeiro de 1993).    

 

Alvará de concessão

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Historial

Henriques, Francisco da Fonseca, Aquilégio Medicinal, 1725 – “ … descendo para o rio Tua, por uma serra tão áspera que só a pé se pode andar por ela, nasce uma fonte de água sulfúrea, com calor moderado, despenhando-se pela serra a abaixo em grande quantidade, onde o zelo do Padre António de Seixas […] mandou fazer um tanque, ainda que humilde e de pedra tosca, no qual se tomam banhos em todo o tempo do ano, e servem para curar debilidades de nervos, e juntas tolhidas[…] São também eficacíssimas estes banhos a curar sarnas, chagas antigas, e lepra […] Se houvera casa de Banhos, e tanque acomodado para se frequentarem, logo pelos efeitos se iria alcançando a qualidade dos minerais, e se viria em claro conhecimento das suas virtudes, seria um grande bem para todos aqueles povos,[…] Todos os anos há grande concurso de gente a lavar-se, e tomar banho nesta água, na noite da véspera e dia de S. Lourenço, pela fé que ela tem; passam de 400 pessoas que se banham nessa noite e dia, sempre com banho novo”. 
Tavares, Dr. Francisco, em 1810 escreve “Abaixo da capela de S. Lourenço. Ao fim de uma eminência sumamente áspera e fragosa, descendo para o rio Tua [ ...] há uma origem de água termal sulfúrea dentro de uma casa como água mãe” […] É água bem diáfana de cor um tanto alvacenta, o cheiro e sabor próprio das sulfúreas […]  distante dois tiros de bala para Norte desta fonte no meio de um silvado há uma outra pequena nascente em tudo e por tudo da mesma natureza da primeira
Em 1867 na resposta aos Quesitos dá-se como frequência de doentes normais por ano entre 4000 a 5000. (cit.Acciaiuoli, 1944/II,135). .  
Lopes (1892) considerou o tanque “ construído numa casa que outrora foi capela”, embora noticie o Padre Seixas como o responsável pela construção deste balneário, como no Aquilégio, mas com uma data posterior: “ mandado fazer pelo Padre António Seixas em 1730”, a ser verdade este jogo de datas o actual tanque coberto teria sido construído no período entre a redacção do Aquilégio, publicado em 1726 e o ano de 1730.  
Barreiro (1947) fez a seguinte descrição: “ … há pouco acima da linha-férrea, duas nascentes a pequena distância uma da outra, uma termo sulfúrea e a outra de águas férreas, e, algumas dezenas de metros acima, num local de muito difícil acesso designado por Caldas Velhas. Este local tem uma nascente, também sulfúrea … e que desagua num tanque que passa por ter sido coberto e servido de balneário. Não tem vestígios de habitações recentes, mas ruínas de antigas e numerosas casas rectangulares de ângulos arredondados…”    
Acciaiuoli (1942) “ É a junta de Freguesia de Pombal que se considera com direitos de concessionária e adjudica anualmente a sua exploração. Em 1939, aquela entidade arrendou por 2.100$00. Costuma ser de 300, aproximadamente, o número de aquistas que anualmente passam por São Lourenço
Almeida (1970) depois da descrição do local escreveu sobre esta água: “Trata-se, pois, duma sulfúrea sódica primitiva, fluoretada e alcalina, perfeitamente identificada com tantas outras do mesmo tipo, emergentes da meseta.
Nestas notas históricas duas dúvidas se colocam: No Aquilégio a descrição das Caldas de São Lourenço serão referentes às Caldas Velhas, entretanto abandonadas? Outra questão a levantar prende-se com a descrição “despenhando-se pela serra a abaixo em grande quantidade”, terá havido entre as duas datas uma nova captagem e tubagem da água para o novo local das Caldas?
Quanto ao edifício do tanque ter sido uma antiga capela, não me parece credível esta afirmação, a planta quadrada com cobertura piramidal construída em pedra maciça, tem imensas semelhanças com os tanques Joaninos das Caldas do Gerês, demolidos em inícios do séc. XX, de que se conservam algumas fotografias.
Outro elemento que poderá ajudar a esclarecer a história destas Caldas na primeira metade do séc. XIX, é a inscrição sobre a porta da capela, de leitura difícil dela se depreende que foi mandada fazer por: Vítor Dafre(?) no ano de 1839. Quem seria este senhor? Um agraciado pelo poder curativo das águas ou o explorador das mesmas águas.               
A adjudicação anual dos balneários, relatada por Acciaiuoli (1942), deverá ter-se convertido num contrato de período mais extenso em data posterior. Segundo a residente mais idosa do local, Mariana da Conceição (de 76 anos), que se considera proprietária dos velhos balneários, a Junta de Freguesia obrigou-a a encerra-los quando da construção do novo balneário (no início da década de 90). Esta senhora ainda pensou recorrer à justiça contra esta medida, o que não veio a fazer pelas despesas e trabalhos que isso representava (segundo o seu relato), ou talvez porque os termos desse contrato de arrendamento lhe davam poucas hipótese de ganhar.
No início da década de 90 a Junta de Freguesia renova os seus interesses como exploradora das águas minerais, construindo um novo balneário. Mas além desses novos balneários em banheiras “plastificadas”, pouco terá mudado em São Lourenço.
Em Junho de 1993 foi formalizada a Associação para o Desenvolvimento das Caldas de São Lourenço, formada por residentes na freguesia de Pombal, pela própria Junta de Freguesia e pela Câmara Municipal de Carrazeda de Ansiães. 
Esta associação apostada na valorização termal, inicia uma série de trabalhos de novas captagens (dois furos), iniciando todo o processo para obter concessão de exploração das águas: análises periódicas, concluídas em 1993 pela então Direcção Geral de Geologia e Minas; reconhecimento das qualidades terapêuticas pela Direcção Geral de Saúde.
Para este último objectivo foi convidado o médico hidrologista Ramiro Valentim, Professor na Escola Superior de Saúde do Norte, que nesse ano de 93 iniciou o acompanhamento médico dos aquista, criando ainda um gabinete de tratamentos ORL, duche de jacto e um outro para doenças hemorroidais. As suas estadias nas Caldas prolongaram-se até 1997.
Será também este o ano em que a associação se quis transformar em Sociedade de Desenvolvimento, convertendo os mesmos associados em sócios, o que não veio a acontecer por “desinteresse da Câmara” (informador no café). Em 1998, Carlos Fernandes, um dos fundadores da associação e seu presidente renuncia ao cargo: “ pelo grau de comprometimento pessoal a nível financeiro, em função dos atrasos de pagamento por parte da Câmara e por não se ter avançado com o Plano de Pormenor de São Lourenço” (Termas de S.Lourenço – muita parra pouca uva  www.bragancanet.pt
Esta mesma notícia (2000), relata-nos que até essa data tinham sido gastos cerca de 30 mil contos, mas: “ as dúvidas e a incerteza quanto ao futuro comercial das termas permanecem.” 
Actualmente a exploração termal é feita pela Junta de Freguesia, por meio de dois funcionários (casal) responsáveis pela sua manutenção. Por questões higiénicas foi decidido encerrar do tanque de banhos, entre a meia-noite e as sete da manhã (durante época balnear), obrigando os utentes a pagamento para a sua utilização. Esta medida tornou-se pouco popular junto dos moradores da vizinha sede de freguesia, onde, os banhos livres no tanque era um direito tradicionalmente adquirido.         

O futuro das Caldas de São Lourenço esta dependente da coordenação dos vários interesses em jogo: dos proprietários de casas e terrenos do local; da Junta de Freguesia que se considera concessionária e da Câmara Municipal que não tem mostrado o interesse necessário no desenvolvimento destas termas.

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Alojamentos

O conjunto termal compreende um agregado de casas muito primitivas, onde os doentes se albergam durante a época balnear, sem o mínimo de condições higiénicas, sem água potável, sem esgotos, com o cheiro dos despejos e o calor abrasante da Terra Quente” (Almeida.1970)
Os alojamentos continuam a ser bastante primitivos, embora já existe rede de esgotos (fossa) e água potável. Nas três casas que alugam quartos, o aquista deverá vir prevenido com roupa de cama, de resto tem à sua disposição além da evidente cama, cozinha sumariamente equipada e casa de banho colectiva. 
Contactos: Mariana da Conceição Tel. 278669151 (termas) / 278669390 (residência) (esta senhora proprietária do café/venda das termas.)
Ainda nas Caldas a Casa Laranja com aluguer de quartos semelhantes.

Em Pombal (a 3km das Caldas): Hotel Rural Flor do Monte Tel. 278660010 /12.

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Recortes

Pública-29/9/96 (Teresa Perdigão) – Portugueses vão para as termas – Gaeiras, bem perto das Caldas da Rainha; Fadagosa, no concelho de Mação; e S.Lourenço, nas terras do douro – são termas escondidas, misteriosas e, essencialmente populares. Magníficas. Não há bridge, nem canasta, nem apelidos sonantes. Só natureza e água a jorrar, quente e sedosa. Águas Santas, diz o povo. 

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Bibliografia

Acciaiuoli1942, Acciaiuoli 1944, Acciaiuoli 1949-50, Almeida 1970, Azevedo 1867, Baçal 1909-38, Barreiro 1947, Brandt 1881, Calado 1995,Chernovitz  1878, Contreiras 1937, Contreiras 1942, Contreiras 1951, Correia 1922, Costa 1941, Costa 1706, Félix 1877, Figueiredo 2002, Henriques 1726, Leal 1875-80, Lopes 1892, Pinto 1839, Silva1867, Tavares 1810, Vale 1845,Le Portugal Hidrologique e Climatique, 4 vols. 1930-42.

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Dados gerais

Distrito
Bragança

Concelho
Carrazede de Ansiães

Freguesia
Pombal       

Povoação/Lugar
Caldas de São Lourenço 

Localização
A 3Km da sede de freguesia junto há estação de São Lourenço caminho-de-ferro da linha do Tua. Na margem esquerda do rio Tua, a meia encosta da vertente do vale sobre o rio.  

Província hidromineral
B / Bacia hidrográfica do Rio Douro        

Zona geológica
Maciço Hespérico Zona Centro Ibérica

Fundo geológico (factor geo.)
Rochas magmáticas, ácidas intrusivas (granitóides)    

Dureza águas subterrâneas
0e 50 mg/l CaCO3

Concessionária

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Telefone
278669123 (Termas)
278669318 (JF- Pombal)

Fax
n.d.

Morada
n.d.

E-mail / site

n.d.

 


O tanque de banhos, sobre a bica a imagem de São Lourenço




A descarga do tanque 




O balneário(foto Leonor Areal)




A descarga do tanque




Aluguer de quartos
(foto Leonor Areal)



O vale do Tua
(foto Nuno Vicentel)



A linha do Tua no local de uma outra imergência de água sulfúrea