AVISO: A informação disponibilizada neste site tem como data de referência o ano 2002 e pode encontrar-se desactualizada.


[Posto de  informações e de venda de águas da Foz da Sertã]

 

Época termal
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Indicações

Dermatoses, catarros crónicos da mucosa intestinal com constipação, enterocolites muco-membranosas, congestões uterinas e anexias, adenopatias, reumatismo (Correia, 1922).

Estados inflamatórios da pele e mucosas, afecções dispépticas e doenças da nutrição (Contreiras, 1951)

Tratamentos/ caracterização de utentes

Correia (1922) fala de banhos, mas não são mencionados nos relatórios de Acciaiouli (1930-40).

Dias (1951) afirma que “em uso interno, empregava-se na dose de 6 decilitros diários, em três porções, antes das refeições; externamente, utilizava-se nas anginas granulosas, úlceras das pernas e dermatoses

 

Instalações/ património construído e ambiental

Constava de uma pequena casa que servia de oficina de engarrafamento, como se pode ver num painel de azulejos dentro da antiga buvete, muito possivelmente construído sobre a própria nascente.
Na década de 1950, com a construção da Barragem de Castelo de Bode, e com o consequente aumento do nível das águas, foi construído “um moderno estabelecimento hidromineral”, de que restam hoje as ruínas inexplicavelmente vandalizadas.
É uma longa construção de quatro pisos. No piso térreo encontravam-se as garagens, a buvete, e um salão que deveria servir de bar/café. O 2º piso é ocupado do lado sul pelo espaço do restaurante e cozinhas; ao centro fica a recepção do hotel, de onde parte um corredor ladeado de quartos cada um com a sua casa de banho. No 3º e 4º pisos havia mais quartos com as mesmas características, perfazendo um total de cerca de 44 quartos e vários apartamentos.
Na margem da albufeira resta a estrutura do que seria um “pavilhão de festas” e as ruínas do cais para embarcações de recreio.
Por detrás deste hotel encontra-se as ruínas do que seria a casa do proprietário ou administrador.
Há uma terceira construção que pertencia a este complexo turístico. Localiza-se à beira da EN Ferreira do Zêzere-Sertã, após a passagem da ponte sobre o rio Zêzere, também em estado de ruína. Subsiste nas paredes a inscrição da sua funcionalidade: “Águas da Foz da Sertã – Posto de Venda e Informações”.
Embora vandalizada, toda a construção denuncia a solidez dos bons materiais utilizados na obra. É um antigo centro de veraneio e tratamento de luxo típico da política de turismo do Estado Novo.

 Quanto à nascente, não a localizámos. Segundo a única informante que conseguimos encontrar no local, “a nascente ainda lá está mas já não corre para o hotel, é por detrás, numa mina. Ainda está boa, a minha irmã levou um garrafão para Lisboa para analisar, e ela está boa.      

 

Natureza

Sulfatadas sódicas e magnesianas siliciosas e aluminosas, 16º, 0,21g de mineralização total (Correia, 1922)
Hipossalina aluminosa (Acciaiouli)
Sulfatada mista aluminosas (Contreiras 1951)

Sulfatadas em ambiente metalífero (Calado, 1992)

 

Alvará de concessão

Alvará de 8 de Fevereiro de 1894, a favor de Joaquim da Silva Godinho. Com área reservada de 20 hectares por alvará de 14 de Novembro de 1895.

Alvará de transmissão de 15 de Julho 1942 a favor de Júlio Martins

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Historial

A notícia de Silva (1890) no jornal de Tomar despertou o interesse para estas águas acídulas, que as populações vizinhas consideram imprópria para consumo. Os estudos e análises da água vieram confirmar a presença de sulfato ácido de alumínio (Machado, 1892).
Lopes (1892) considera os valores terapêuticos destas águas “ por tal forma importantes e por vezes tão inesperados, que se impõem à consideração de todos que por tais assuntos se interessam, obrigando a divulgá-los no campo em que tais conhecimentos devem ser publicados “. Descreve depois 16 casos de doentes seus tratados com esta água: em cinco houve o desaparecimento completo de açúcar na urina, em quatro melhorias grandes, em cinco melhorias menores, e dois não obtiveram resultados, sendo estes casos de diabetes grave.
As suas qualidades terapêuticas também foram sublinhadas por Lencastre (1899), que as considerava de grande utilidade nas perversões digestivas da convalescença de doenças como febres graves, atonias gástricas dos diabéticos, tuberculosos, no gastricismo dos esgotados por jejum, por climas tropicais, nos anémicos e cloróticos, etc.
Foi premiada com medalha de prata na Exposição de Paris de 1900 e consta do catálogo de Silva (1908) para a exposição do Rio de Janeiro.
Tenreiro Sarzedas (1907), médico inspector, inclui-a no Relatório de 1906: “É recente a sua história, limitada ao conceito clínico formado à distância, pois que a água só é usada pelas garrafas que a sua empresa exporta, não se fazendo dela uso no lugar em que brota, pela falta absoluta de alojamentos.” (111)
Lepierre (1910) estudou o poder microbicida da água perante certos vermes e em 1930 estudou a sua radioactividade, considerando-a muito radioactiva.
Acciaiuoli (1941), afirma no relatório relativo à actividade de 1939 que “saíram 282,8 litros de água em garrafas de 7 decilitros […] Não foram feitas obras, o pessoal é só uma mulher que trabalhou 15 dias no ano.
Nos relatórios posteriores ao alvará de transmissão de 1942 a favor de Júlio Martins, a situação não era muito diferente e o total de litros/ ano engarrafados rondava os 300.
 “Desgraçadamente, a fonte da Foz da Sertã, desapareceu submersa no regolfo da barragem de Castelo de Bode e, com ela, um singular tipo de águas minero-medicinais do nosso país” (Dias, 1951)
Mas segundo “Le Portugal Hydromineral” de Acciaiuoli (1953), a construção da barragem obrigou a novas captagens de acordo com o nível máximo das águas da albufeira (“La constrution du nouvel etablissement hydrologique est en cours “ - II, 394). Na mesma página está também reproduzida uma foto do novo estabelecimento tirada da outra margem da albufeira, coincidindo com a foto arquivada em dossier.

O estabelecimento hidrológico era basicamente um grande hotel que funcionou até 25 de Abril de 1974. Hoje restam as ruínas de quatro pisos no magnífico cenário da Albufeira. “Aquilo era uma coisa em grande, o hotel estava que era um mimo. Depois do 25 de Abril foi ocupado pelos que vieram de África, que arrebentaram com aquilo tudo. O dono teve um desgosto tão grande que se suicidou” (Proprietário da hospedaria Luanda em Tomar)

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Alojamentos

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Recortes

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Bibliografia

Abreu 1893, Acciaiuoli: 1936; 1937; 1940; 1941; 1942; 1944; 1947;1948a;  1948b; 1949-50; 1953. Almeida 1948, Bastos 1935, Calado1995,Contreiras 1937,Contreiras 1951,Correia 1922, Dias 1951, Dujardin  1887-95, Lencastre 1899, Lepierre: 1901; 1910; 1928-30.Lopes 1892, Lopes 1899, Machado 1892, Narciso 1947, Orey 1893, Pamplona 1935, Sarzedas1907, Silva 1908, Silva 1890.Le Portugal Hydrologique e climatique. 1930-42, Águas minerais do continente e ilha de S.Miguel1940, Águas e Termas Portuguesas 1918,Anuário Médico-hidrológico de Portugal 1963. 

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Dados gerais

Distrito
Castelo Branco

Concelho
Sertã

Freguesia
Cernache de Bonjardim       

Povoação/Lugar
Foz da Sertã 

Localização
Na margem esquerda da albufeira de Castelo de Bode no Zêzere, depois de passada a ponte da EN Ferreira do Zêzere-Sertã. Depois de cerca de 3 km de subida no desvio para a Foz da Sertã, chega-se à albufeira por estrada municipal alcatroada a 2 km deste local.  

Província hidromineral
B / Bacia hidrográfica do Rio Tejo      

Zona geológica
Maciço Hespérico – Zona Centro-Ibérica

Fundo geológico (factor geo.)
Rochas Metamórficas (Xistos)  

Dureza águas subterrâneas
0 a 50 mg/l de CaCO3

Concessionária

Abandonada (em ruínas)

Telefone
n.d.

Fax
n.d.

Morada
n.d.

E-mail / site

n.d.

 

 


O hotel abandonado




Painel de azulejos representando a antiga casa da fonte. (foto Leonor Areal)




Interiores do hotel
(foto Leonor Areal)