AVISO: A informação disponibilizada neste site tem como data de referência o ano 2002 e pode encontrar-se desactualizada.


[As Caldas da Cavaca, no início da década de 60. À esquerda o balneário (In anuário médico hidrológico, 1963)]

 

Época termal
Junho a Outubro

Indicações

Doenças do aparelho digestivo, dermatoses e reumatismo

Tratamentos/ caracterização de utentes

O balneário tinha 12 banheiras, 6 para cada sexo, onde se tratavam sobretudo doenças da pele, mas também era procurada para reumáticos.
Os tratamentos de doenças do fígado e intestinos, os mais procurados nestas termas, eram feitos por ingestão, com quantidades indicadas pelo médico, com água recolhida na Fonte dos Remédios.

O guardião do espaço referiu ainda um outro tratamento, a diotermia, por ondas curtas. Sobre tratamentos e frequentadores recolhemos do mesmo informador o seguinte testemunho: “Os tratamentos eram aos 14 dias, o máximo quando vinham gajos muito apertados era 21 dias. Por cada 14 dias tinha à volta de 800 a 900 pessoas. Aqui era tratado principalmente fígado, intestinos e pele. Faziam-se também banhos para o reumático mas essas eras as doenças principais. Faziam-se também tratamentos eléctricos, diotermia com ondas curtas. Faziam uma dieta rigorosa, só cosidos e grelhados, bebiam a água em jejum e só depois é que comiam. De vinho nada, uma vez um rapaz que andava aí, um colega meu, teimou para lhe arranjar vinho, e eu dizia-lhe “ó Zé não bebas que te vai fazer mal”, mas ele teimava que era só um copinho, eu dizia-lhe “se és burro bebe, a culpa não é minha”. Um dia depois da água em jejum foi almoçar e bebeu vinho, quem que diz que ele segurou mais os intestinos, depois dizia-me assim “oh Sr. António não consegui toda a tarde levantar-me da sanita. Havia banhos para homens e mulheres, eram separados, 6 banheiras de cada lado. Não havia piscina mas agora vão fazer. A diotermia era feita no salão. Na Fonte dos Remédios tinha uma empregada que dava a água por medida, as pessoas quando iam beber levavam um papelinho do médico onde estava apontada a quantidade de água que a empregada tinha de dar. Do lado dos homens havia de empregados, uma senhora e dois homens, e do lado das mulheres 3 senhoras.

 

Instalações/ património construído e ambiental

O complexo termal desenvolve-se em volta de um parque arborizado e ajardinado de planta rectangular. Ao centro encontra-se o antigo balneário, demolido em todo o interior quando da visita. Num dos lados ficam a Pensão Avenida e a Casa da Varanda, de aluguer de quartos; entre estas duas construções uma escadaria leva à capela de N.ªS.ª dos Remédios. No extremo do terreiro, onde termina a estrada, encontra-se outra construção também de aluguer de quartos, e um pouco abaixo a casa do actual único funcionário das termas (guardião e jardineiro).

"Este parque foi o antigo dono que mandou fazer. Ele não tinha curso nenhum. O filho dele, o Dr. Leopoldo, era médico, não sei se ainda é vivo. O outro irmão já morreu, também se chamava Fernando. Mas foi o neto do primeiro dono que vendeu à Câmara, que também se chamava Fernando Emílio da Silva Laires" (guardião das caldas)

 

Natureza

Sulfúrea sódica primitiva, muito fluoretada, silicatada sódica (29º) (Acciaiuoli, 1944)
Sulfúrea sódica, fluoretada e silicatada (Contreiras, 1951)
Sulfúrea sódica (Calado, 1992)    

 

Alvará de concessão

1924 – Diário do Governo, nº 46, II série, de 16 de Novembro: concessão das Caldas da Cavaca a Fernando da Silva Laires, com uma área reservada de 50 hectares.
1963 – Alvará de concessão a herdeiros de Fernando da Silva Laires
1994 – Alvará de concessão Caldas da Cavaca - Turismo e Termas, SA

Neste mesmo ano as termas encerram para obras de renovação, estando prevista a sua reabertura para 2004.

regressar ao topo da página

 

Historial

“O regedor da Cortiçada, em 1867, informou haver uma nascente no sítio da Cavaca, nem quente nem fria” (Acciaiuoli 1944, III: 102). Esta nascente foi  também referenciada por Lopes (1892), por uma notícia recebida: “Encontra-se ali uma nascente de água minero-medicinal, que me dizem sulfúrea.”
A listagem de Águas e Termas Portuguesas – Indicações Gerais para Uso dos Banhistas E Turistas, de 1918, quando se refere ao local da nascente, informa-nos da existência de um balneário, que deveria ser bastante rudimentar: “Brotam na propriedade do Sr. Ovídio de Apoim, tendo como gerente do balneário o Sr. Manuel Bernardo.” Quanto a alojamentos, as Caldas da Cavaca contavam com “diversas casas e quartos de aluguer, a que na região chamam quartéis”.
Em 1924 foi concedida a exploração a Fernando da Silva Laires, “o grande impulsionador das Caldas da Cavaca – De 1916 a 1957” (conforme inscrição no busto existente no local). O balneário seria o mesmo que existia antes da concessão, referido por Acciaiuoli (1944 III: 102) como já existente em 1915, e era composto por seis banheiras, sendo a água era aquecida numa caldeira de cobre.
Em 1935 foi encomendado um estudo de novas captagens, do qual foi encarregue o engenheiro Carlos Bento Freire de Andrade (1935, 1938). Nessa ocasião é descoberta uma banheira talhada na rocha no local de uma emergência de água, com um rudimentar aproveitamento dos gases libertados da água, sobre a qual escreveu este engenheiro geólogo: “Possivelmente atribuída aos romanos, já se tinha utilizado um processo [para retenção dos gases], […] pois a escavação em forma de banheira estava rodeada por uma espessa camada de caulino mais ou menos puro, que cobria a superfície do terreno”.
No Relatório sobre os trabalhos efectuados, o engenheiro Andrade (1938) descreve a nascente: “Brota no fundo de um poço de alvenaria de secção rectangular com 0,90 x 1 m e de uns 2,40 m de profundidade e, segundo informações, assente sobre o granito […] Ao actual nível de captagem a nascente tem um caudal diário 98,5 m3 […] Provavelmente será necessário aumentar o caudal, visto o proprietário pensar em colocar no futuro balneário cerca de 18 banheiras” Este balneário só seria concretizado nos finais da década de 1940, não com as projectadas 18 banheiras mas sim 12, sendo 6 para cada sexo, ocasião em que constrói a Fonte dos Remédios, adaptando os velhos balneários a zona técnica termal, onde se encontrava a grande caldeira de aquecimento.
Mas o velho balneário deve ter continuado em funções até à década de 60. Isso se depreende da leitura do “Anuário” de 1963, onde a alínea sobre “Estabelecimentos termais ou balneários” tem o seguinte texto: “Existem actualmente dois balneários: um moderno e bem montado e outro antigo e modesto, mas eficiente”. Deste velho balneário vimos as ruínas junto da Fonte dos Remédios, transformadas em dependências de arrumos e local da caldeira de aquecimento das águas.
Quanto a alojamentos, as Caldas da Cavaca contavam desde os anos 1930 com a Casa da Varanda, de aluguer de quartos e pequenos apartamentos. No início da década de 1940 foi construída a pensão, e seria ao longo dos anos 1950 que o parque termal iria formar a sua exuberante vegetação. No final dessa década ou mesmo no início dos anos 1960 o complexo termal seria coroado com a capela de N. Sr.ª dos Remédios.
Em 1957 faleceu o proprietário, Fernando da Silva Laires, e os seus filhos Leopoldo e Fernando receberiam o alvará de transmissão da concessão em 1963.
Nas décadas seguintes, durante todo o período de crise do termalismo, as Caldas da Cavaca sobreviveram sobretudo pela sua valência terapêutica na cura de doenças hepáticas e intestinais, como nos referiu o guardião: "Para aqui vinha gente de todo o país, gente de todas as idades, nova e velhos. Hoje do fígado quase toda a gente sofre, quem é que não gosta do “pingo”, toda a gente abusa e depois tem de se tratar."
Em 1983, o neto do fundador, Fernando Emílio, vendeu a propriedade e concessão à Câmara Municipal de Aguiar da Beira. Na temporada de 1995 as termas não abriram, prolongando-se essa situação até à actualidade. O nosso guia, guardião e jardineiro do belo parque termal, está neste posto desde 1979, é actualmente funcionário municipal, e recorda com nostalgia os tempos áureos das Caldas da Cavaca: "Dantes estava habituado a ver os doentes chegarem e habituado a vê-los ir embora. Quando faltava 15 dias para começar ficava todo alegre, mas quando chegava 15 dias antes de fechar, só pensava em aguentar isto até ao fim. Havia bailes, era uma animação, as raparigas que trabalhavam cá até iam buscar os doentes à cama para o baile, havia sempre alguém que trazia uma grafonola, violão ou acordeão, era baile todos os dias até 3 ou 4 da manhã. Isto era no tempo dos antigos donos, que na noite de S. João ofereciam banho a toda a gente, na manhã seguinte e por todo o dia estava o balneário sempre a trabalhar e não cobravam nada. No último ano que isto esteve aberto o banho era 400 escudos.
O Jornal “Nova Guarda” publicou a 27/8/2003 um artigo assinado por Fátima Monteiro com o título “Autarquias apostam no termalismo como fonte de desenvolvimento”, abordando os projectos para várias termas do distrito. No que respeita a Caldas da Cavaca, noticiava uma parceria entre a Câmara de Aguiar da Beira e o INATEL para a recuperação destas termas, num projecto que queria realizar “além do balneário termal, um hotel, casas de apoio, piscinas e campos de ténis. A construção do balneário já arrancou, pelo que o presidente da Câmara, Fernando Andrade, prevê que a obra fique concluída no próximo ano. Depois do balneário, com custo na ordem dos 300 mil contos, segue-se a recuperação das casas já existentes. Fernando Andrade não avança com uma previsão para a conclusão total das obras, tendo em conta que o andamento do projecto «vai depender também dos apoios financeiros do Governo[…] Terminados os trabalhos, é o INATEL que vai explorar todo o complexo termal»

Este protocolo com o INATEL seria assinado a 19 de Janeiro de 2005, o balneário ficou concluído em Fevereiro desse ano, depois da autarquia ter despendido “cerca de um milhão de euros”, mas a autarquia procura ainda parceiros que cubram uma despesa que rondará os 15 milhões de euros para a requalificação de todo o complexo termal, construção de um hotel e recuperação dos edifícios existentes.

regressar ao topo da página

 

Alojamentos

Havia a Pensão Avenida, com 2 pisos, a Casa da Varanda, com 3 pisos, onde alugavam quartos ou pequenos apartamentos, e uma casa térrea que também alugava quartos."Naquele tempo para arranjar aqui um quarto era preciso 3 ou 4 meses para marcar. As pessoas é que faziam a comida, só havia restaurante na pensão." (guardião das caldas)

regressar ao topo da página

 


Recortes

---

regressar ao topo da página

 

Bibliografia

Acciaiuoli: 1936; 1937: 1940°; 1940b;1941; 1942; 1944; 1947; 1948; 1949-50.
Aguiar, 1919; Almeida, 1948; Andrade, 1935: Andrade 1938; Carvalho e Lepierre 1939:
Contreiras 1937; Contreiras 1951; Correia 1922; Diniz 1936; Lopes 1892; Mendonça 1921; Narciso 1920ª; Narciso 1920b; Narciso 1925; Narciso 1948

Águas e Termas Portuguesas 1910; Águas das Caldas da Cavaca 1939; Águas minerais do continente e ilha de S. Miguel 1940; Anuário Médico-hidrológico de Portugal 1963; Portugal hydrologique et climatique 1930-42; Termas de Portugal 1947

regressar ao topo da página

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Dados gerais

Distrito
Guarda

Concelho
Aguiar da Beira

Freguesia
Cortiçada       

Povoação/Lugar
Caldas da Cavaca 

Localização
A 2 km da povoação de Cavaca, nas margens do Rio Coja, a uma altitude de 580m.  

Província hidromineral
B / Bacia hidrográfica do Rio Mondego      

Zona geológica
Maciço Hespérico – Zona Centro-Ibérica

Fundo geológico (factor geo.)
Rochas magmáticas (granitóides)   

Dureza águas subterrâneas
0 a 50 mg/l CaCO3

Concessionária

Caldas da Cavaca Turismo e Termas, SA (Câmara Municipal de Aguiar da Beira sócio maioritário)

Telefone
23258103

Fax
n.d.

Morada
n.d.

E-mail / site

n.d.

 

 


Por detrás dos baloiços o balneário e fonte (In anuário médico hidrológico, 1963)

Vista geral na subida para a Senhora do Remédios - A capela da Srª dos Remédios  (in http://www.flickr.com)


Vista geral na subida para a Senhora do Remédios