AVISO: A informação disponibilizada neste site tem como data de referência o ano 2002 e pode encontrar-se desactualizada.


[O Sr. António Fonseca, proprietário dos Banhos do Pisão. Entrada da gruta da nascente e sala de duche]

 

Época termal
Os banhos abrem nos meses de Julho, Agosto e Setembro.

Indicações

Doenças de pele e reumatismo (Contreiras, 1951)

(António Fonseca) "Aquelas águas para males de pele são muito boas. Curou-se também uma mulher que trazia a perna toda podre."

Tratamentos/ caracterização de utentes

O preço por banho era em 2003 de 4 euros.
Actualmente o proprietário, um homem de 91 anos residente no lar da terceira idade, contratou um terceiro para tomar conta dos banhos.
Conta com 3 duches e 3 banheiras. "As banheiras são assim antigas, eram de pedra, eu revesti a cimento, até ficaram jeitosas." Uma opinião não partilhada pela aquista com quem falei em Longroiva, que ao descrever-me essas mesmas banheiras comentou: "As banheiras são de cimento, mas daquele que não é liso, uma pessoa fica toda arranhada."
A escolha entre o duche e o banho é feita pelo aquista, aliás o sr. Fonseca não interfere com o tipo de tratamento, a não ser na conhecida prática dos tratamentos em pernão (impares).
Também os “banhos santos” estão aqui presentes em três datas anuais: S. João, S. Pedro e Sete Senhoras (7 de Setembro). Nesses dias era tal a concorrência que “até a água me acabava. Tenho umas represas para cá, que é toda a mesma veia, desses dias tinha de levar a água para lá."
Segue-se parte da conversa tida com o proprietário e o padre Alfredo Marques, onde é enumerada mais uma nascente, a do Fígado.
 "(Padre) As pessoas iam para lá de carros de bois sem poder andar e saíam de lá pelo seu pé. O Joaquim Vasco, estava um troço… conte-lhe essa história.
(António Fonseca) Ali curou-se muita gente, apareceu lá um com uma perna toda podre e curou-se lá.
(Padre) O Joaquim Vasco tinha o corpo todo coberto de chagas, correu todas as termas por aí, dermatologistas, remédios e veio curar-se ali. Isto foi há uns 45 anos.

 (António Fonseca) Para o reumatismo não é preciso aquecer a água, mas agora para mal de pele tem de ser aquecida, se se leva a mão à torneira até queima. Aparece mais gente para o reumatismo. Para o mal de pele dizem que não há água como aquela, pena não estar aquilo arranjado. Até lá há água para o fígado, eu andei lá a abrir uma passagem, depois começou a sair lá no meio e eu fiz lá uma pocita para apanhar a água. Esta já é doutra água, não é a mesma dos banhos, também tem enxofre mas é fria. Ainda abre, já há dois anos que tenho lá um rapaz do Meio a tomar conta daquilo. Agora já fechou, mas abriu três meses, Julho, Agosto e Setembro. Levo aquilo barato porque é preciso olharmos às comunidades. Tem levado 4 “ouros”. É pouco, é preciso cortar lenha, tratar do quarto, a luz. Dantes ia lá muita gente, mas depois adoeceu-me a mulher, eu não podia, os filhos não me ajudaram, casaram-se todos no alvitre, um até está na Argentina, agora até está viúvo. Mas ainda lá vai muita gente."

 

Instalações/ património construído e ambiental

A emergência de água encontra-se dentro de uma pequena gruta num afloramento granítico, de grandes e volumosas rochas. Originalmente surgia no fundo de um pequeno poço, mas o Sr. Fonseca fez uma pequena obra de engenharia hidráulica: “Depois apertei-a, apertei-a até cima e depois pus aqui o chuveiro, com um depósito” , ou seja, no canto da pequena gruta construiu uma parede em cimento forte, oca, de maneira que a água fosse obrigada a subir para um depósito que fecha a parte superior da pequena gruta, onde colocou um “chuveirito”, ligado directamente a este depósito, mas onde se ligam, também, as canalizações que levam ao “balneário”.
Paralelo a este afloramento granítico encontram-se quatro “presas”, tanques que captam o excesso de água que delas escapa em pequenas emergências. No topo desta encontra-se outra nascente resguardada por um pequeno casinhoto, é a chamada nascente do fígado, cuja água tem um teor sulfúreo muito inferior e nasce fria.

Das construções existentes no local, para além das descritas, duche da gruta, tanques e nascente do fígado, há mais dois edifícios. Um na mesma cota do afloramento é uma construção contínua onde se encontra a caldeira, os dois duches e três banheiras. Esta faz um pátio traseiro com o piso elevado da construção principal. Neste piso encontram-se os 10 quartos de aluguer e a residência do proprietário; o piso inferior é ocupado com arrumos agrícolas e, na parte mais a montante, com o velho moinho de água, com o rodízio e toda a sua a sua parte mecânica. É esta construção em granito grosseiro, com uma área de implantação de cerca de 100 m2, que deverá corresponder ao antigo Pisão descrito no Aquilégio.

 

Natureza

A água deverá imergir a uma temperatura de 28º a 30º

(António Fonseca)"A água sai morninha, de Inverno se está mau tempo sai mais quente, de Verão está mais fria, conforme muda o tempo assim muda a água."   

 

Alvará de concessão

Nunca foi concessionada

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Historial

“Em Aldeia Nova, termo da vila de Trancoso, comarca da Guarda, há uma fonte quente, e sulfúrea, que lança copiosíssima quantidade de água, comanda um pisão, e só com a dita água, sem mais lenha, nem fogo se preparam os panos. Não se usa desta água, como de outras semelhantes; sendo que por sulfúreas terão as virtudes que consideramos em qualquer água quente, que passa por minerais de enxofre […] e porque nos consta que em várias partes da comarca da Guarda há muitas fontes sulfúreas, que estão em desprezo, sendo dignas de se usar delas, como de qualquer das ditas Caldas.” (Aquilégio, 1726)
Esta nascente é nomeada ainda nas memórias de António Fonseca, mas é pouco provável que fosse a água da nascente que accionasse o mecanismo do pisão, que deveria trabalhar com a água da ribeira, servindo a água quente ao tratamento das lãs. Aliás, a este pisão sucedeu um moinho, no piso inferior da construção principal que trabalhou até há alguns anos, como nos diz o Sr. Fonseca: “Eu ainda paguei durante 60 anos o imposto da indústria, ainda moí muito, agora, está claro, já não posso, já estou todo estragado."
Outra das suas afirmações prende-se com uma antiguidade anterior a todas as memórias que possa ter recebido dos seus ancestrais, a já clássica “aquilo já é muito antigo, é do tempo dos romanos”.
Dos seus pais e avós guarda uma memória mais difícil de localizar temporalmente: “Aquilo já vinha dos meus avós, antes disso era de uma D. Emília Canheiros (ou Ganheiros?), fugiu quando foi da guerra, para Viana de Áustria, para a divisão da China, depois vendeu, depois andou de uns para os outros e o meu pai comprou.”
"Eu já lá estou há 91 anos, tinha um mês quando para ali vim. Eu sou lá de cima de Palácios, em Trancoso, faz de conta que num dia nasci, no outro foi baptizado e no outro foi para ali, e lá fiquei enquanto Deus quiser." O ano do seu nascimento foi em 1912, data que deverá coincidir com a aquisição dos banhos pela parte de seus pais ou com a posse por herança entre irmãos.
Lopes (1892) afirma laconicamente que “consta que não há balneário”.
Certo é que António da Fonseca entra na posse dos banhos na década de 1930. "Tinha a sexta parte, éramos seis irmãos, herdei uma e comprei duas partes e fiquei com metade" (os outros três irmãos receberam outras propriedades) . Foi nesse período e até aos anos 60 que fez alguns trabalhos de melhoramentos, como as “presas” (tanques) para aproveitamento da água que corre de pequenas emergências no afloramento granítico, o “apertar” da água e respectivo depósito, assim como as canalizações, renovação dos banhos e o cimentar das banheiras de pedra. Nos anos 60 "a mulher adoeceu-me, andava sempre a caminho de médicos, de um lado para o outro, não podia fazer nada, os filhos não me ajudaram nada."
Também não muito bem localizada no tempo é a memória de “uns senhores que estiveram lá a fazer um estudo com uns aparelhos a medir não sei o quê. Já vai uns anitos. Além ao meio é que os homens apertavam os aparelhos e depois diziam, aqui tem 100, acolá 150, mas não sei o que era que eles andavam a estudar." Seriam os estudos do eng.º Egas Pinto Bastos em 1936 para determinação da radioactividade das água?
O futuro destes banhos é incerto. Interessados na sua compra não faltam, mas… "Eu agora estou viúvo, morreu-me a mulher, então entreguei aquilo aos filhos. Agora os filhos é para comporem aquilo, a ver se Estado dá alguma coisa também. Tenho um filho na Argentina e estamos estado à espera, agora já mandou a procuração. Agora é eles tirarem às sortes de quem tomar aquilo. Eu para mim já só preciso p’rá boca." (Padre) "Já lhe quiseram comprar aquilo por 150 mil contos, mas este homem não aceitou, agora aquilo já estaria tudo composto com balneários como devia ser."

"Eles queriam comprar isto para fazer um campo de turismo, eram de Viseu, ainda andaram arranjar os papéis, vieram cá 9 vezes. Depois eu escrevi para Argentina e os meus filhos começaram a dizer «Oh meu pai não venda» e eu não vendi. Agora já me arrependi, eles nunca fazem nada, bom, agora pode ser que tenham brilho. Um trabalha no banco, o outro é retratista (fotógrafo) tem uma casa na Guarda, também está bem, outro está ali na Fuinha. O que eles queriam fazer aí era uma colónia de turismo, faziam uma piscina ali na lameira, faziam uma represa na ribeira, para trazerem uns barquitos, isto dava para tudo."

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Alojamentos

Das mais de 100 pessoas que se juntavam no local, só parte ficava na hospedaria. "Quartos é que tenho poucos, tenho para 12 ou 13 pessoas. Mas agora têm carro, tomam banho e abalam para casa, com o que poupam no banho gastam na gasolina."

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Recortes

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Bibliografia

Acciaiuoli 1944, Acciaiuoli 1949-50, Almeida 1975, Basto 1936-37, Brandt 1881, Contreiras 1937, Contreiras 1951, Félix 1877, Henriques 1726, Lopes 1892, Narciso 1920, Tavares 1810, Águas e Termas Portuguesa 1918, Le Portugal Hidrologique e Climatique 1930-42

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Dados gerais

Distrito
Guarda

Concelho
Trancoso

Freguesia
Aldeia Nova       

Povoação/Lugar
Pisão 

Localização
Na estrada que liga Aldeia Nova a Trancoso, toma-se, depois do cemitério de Aldeia , uma estrada alcatroada, junto de uma velha tília; uns 600m à frente esta estrada bifurca-se, e toma-se então a da esquerda, que termina nas Termas do Pisão, depois de atravessar a ribeira do mesmo nome sobre uma ponte simples. Na margem direita localiza-se o estabelecimento termal.  

Província hidromineral
B / Bacia hidrográfica do Rio Mondego      

Zona geológica
Maciço Hespérico - Zona Centro-Ibérica.

Fundo geológico (factor geo.)
Rochas magmáticas (granitóides)   

Dureza águas subterrâneas
0 a 50 mg/l de CaCO3

Concessionária

(uso popular)
Proprietário: António Fonseca

Telefone
n.d.

Fax
n.d.

Morada
Lar da Terceira Idade de Aldeia Nova - Trancoso

E-mail / site

n.d.

 

 


O antigo Pisão foi transformado em moinho com balneário e hospedaria




O tanque de reserva de água junto do rochedo da nascente