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[A mina da nascente talhada no saibro]

 

Época termal
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Indicações

Doenças do fígado e prisão de ventre (Contreiras 1951).
“Estas águas têm todas as características para serem utilizadas na cura da diurese.” (Anuário 1963).

“Um engenheiro que apareceu aí pediu se podia levar água daqui, o meu pai disse-lhe: ‘Pode, vá lá acima buscar.’ Ele tinha um filho que tinha um problema de fígado ou intestinos. Acho que o filho teve uma boa recuperação, até os médicos ficaram espantados com o evoluir da situação […] Às vezes bebemos água dela, mas já ouvi dizer que a água não é muito boa, a beber é um bocado salobra, não é fresca, e é uma água que desgasta, digamos que desprende os intestinos.” (Conversa com Paulo Coelho)

 

Tratamentos/ caracterização de utentes

Apenas para ingestão

 

Instalações/ património construído e ambiental

A nascente […] brota de uma camada delgada de areia, entre duas bancadas de argila compacta. Designa a carta geológica os terrenos desta região como pertencentes ao Jurássico.” (Pego 1909)
Sobre a nascente foi construída em 1909 uma pequena casa, e havia então uma outra construção, a cerca de 20 m, que servia de oficina de engarrafamento. Acciaiuoli (1944), refere que ambas se encontravam em ruínas e que a produção de águas engarrafadas terá durado um pequeno período depois da concessão.
Mas segundo Paulo Coelho, um dos actuais proprietários da Quinta de Charniche, terá havido outro período, na década de 1950, em que o seu avô voltou a engarrafar as águas, “mas a nascente não justificava a tiragem e acabou por parar a exploração”. Isto coincide com a nota final do relatório sobre esta nascente publicado no “Anuário” (1963): “Não obstante o concessionário pagar ao Estado os impostos devido, estas águas encontram-se por explorar”.
 A água brota ao fundo de uma pequena mina de 4 a 5 m de profundidade. “Isto é tudo escavado no saibro, não tem nenhuma estrutura, é só escavada […] Estamos por cima de um tanque que leva para aí cerca de 2000 litros, tem assim dois degraus com dois tubos.” (Conversa com Paulo Coelho)

Desse depósito a água segue por tubagem para uma construção de arrumos agrícolas, localizada a uma cota mais baixa: “Tem uma pressão doida, isto tem um desnível de cerca de 30 m, cada 10 m representa um quilo de pressão, eu tenho um manómetro, lá em baixo tem 3 virgula não sei quê, em casa temos cerca de 2 quilos.” (Conversa com Paulo Coelho).

 

Natureza

Sulfatada cálcica (Acciaiuoli 1941)
Sulfatada sódica e magnesiana (Contreiras 1951)

Sulfatada cálcica, cloretada (Calado 1992)

 

Alvará de concessão

Passado a 26 de Março de 1909, a favor de Joaquim de Sousa Belford.
A 16 de Março de 1942 ficou averbada a concessão a favor de Sara Belford Street.

Proprietário actual da Quinta de Charniche: família Alves Coelho

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Historial

Foi o proprietário da quinta Joaquim Belford que se interessou por esta água, mandando-a analisar em 1908. Esta análise, realizada por Mastbaum (1908) concluiu que, como cloretada sódica, sulfatada, magnesiana e salina, bicarbonatada cálcica e magnesiana litianada, poderia ter utilidade em doenças do aparelho digestivo, nomeadamente na cura da “da diurese, mas não tiveram ainda utilização terapêutica digna de menção . (Le Portugal Hydrologique 1930-42, III)
O relatório de reconhecimento coube em 1908 ao engenheiro Pego, que referiu uma outra emergência: “A 250 m para SO da nascente, numa trincheira de erosão do terreno, reaparece, entre as bancadas de argila, a camada de areia que resume água mineral idêntica […] Este ponto de emergência da água mineral está a 20 metros abaixo do nível da nascente”.
Em 1916 o concessionário manda proceder a novas análises das duas emergências, para melhoria da captação e do caudal, que sempre se mostrara insuficiente. Estas análises, publicadas no “Anuário” (1963), foram realizadas por Charles Lepierre, e é notável a idêntica composição química, mas com uma menor mineralização total na Nascente Nova num total de 2445,84 mg, contra 3784,96 mg da Nascente Velha.
Em 1942 os herdeiros de Joaquim Belford averbaram a concessão em nome de Sara Belford Street. Ainda nessa década de 1940, a propriedade mudava de mãos, sendo a zona que incluiu as nascentes adquirida por Custódio dos Santos Coelho, como nos contou o seu neto, Paulo Coelho: “Esse Belford era o dono da quinta, que nessa altura tinha uma dimensão maior do que tem no presente. Eu não sei qual a área que tinha, mas digamos que toda esta envolvência fazia parte da quinta, a própria povoação eram terrenos da quinta. Depois acho que foi o meu bisavô que comprou e pagou parte, o meu avô pagou o resto […] Mas acho que o meu avô é que explorou essa água.”
Paulo Coelho não chegou a conhecer o avô, falecido em 1970. Seu pai, Gregório Coelho, e um tio, Custódio Coelho, dividem actualmente a propriedade, mas o local da nascente não calhou a nenhum dos dois nas partilhas entre sete filhos herdeiros: “Há aqui uma parcela, que chamamos do ‘tio Chico’, porque estava casado com uma irmã do meu pai, essa parcela foi comprada há cerca de 20 anos. A irmã Celeste é que foi herdeira da parcela que continha a mina, ou seja, a mina não calhou a meu pai como herança, foi comprada a uma irmã.
Paulo Coelho dá “formação a reclusos, de horticultura e formação agrícola” do estabelecimento penal de Alcoentre, e na quinta de Charniche mantém a exploração de vinha e de pomares de pêra rocha, com 3 hectares de pomar. Considera a zona Oeste com características especiais para esta fruta: “Aqui o clima, desde Caldas da Rainha até Sintra, é a zona da pêra rocha, para o Sul não se consegue fazer, para o Norte também não. Quer dizer, as pereiras dão pêras, mas não é rentável. Os espanhóis também não conseguem fazer, é a nossa sorte, quando eles conseguirem fazer estamos lixados.” Há uns anos atrás construiu um tanque para rega de uma parte do seu pomar, junto do qual apareceu uma nascente de água, provavelmente a mesma “Nascente Nova” analisada por Lepierre (1916).
Paulo Coelho já fez vários ensaios agrícolas utilizando esta água mineral na rega de plantas subtropicais, em caldas para tratamento dos pomares e vinhas, em que ela se mostrou ineficaz. Recorda uma desastrosa utilização num aviário: “Tínhamos aqui um aviário e uma vez tivemos problemas com falta de água de um furo que temos aí. Então fui buscar 500 l de água dessa nascente e fiz um ensaio, num aviário pequenino. No outro dia os animais estavam completamente molhados, de diarreia completa.

Quanto ao futuro desta água mineral, o nosso anfitrião concluiu que “era bom que esta água tivesse alguma qualidade especial, há aí tantos problemas de saúde hoje em dia”.

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Alojamentos

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Recortes

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Bibliografia

Acciaiuoli: 1936; 1937; 1940; 1941; 1942; 1944; 1947;1948a;  1948b; 1949-50; 1953.  Calado 1995, Contreiras 1937, Contreiras 1951, Correia 1922, Leal 1875-80, Lepierre 1916, Mangorrinha 2000, Mastbaum 1904, Morais 1947, Pego 1909, Vieira 1926,  Águas minerais do continente e Ilha de S. Miguel 1940, Anuário Médico-hidrológico de Portugal 1930-42

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Dados gerais

Distrito
Lisboa

Concelho
Torres Vedras

Freguesia
Ventosa (S. Mamede)       

Povoação/Lugar
Azinhaga 

Localização
Na Estrada de S. Pedro da Cadeira para Ventosa, a cerca de 4 km, tomar um ramal à direita para Azinhaga, que fica a cerca de 1 km. A Quinta de Charniche fica do lado esquerdo da estrada, na encosta de uma pequena colina sobre a ribeira de Mocharia, subafluente do rio Sizandro.  

Província hidromineral
A / Bacia hidrográfica: Ribeiras de costa oeste      

Zona geológica
Orlas Meso-Cenozóicas

Fundo geológico (factor geo.)
Rochas sedimentares, detríticas mais ou menos consolidadas (arenitos)   

Dureza águas subterrâneas
100 a 300 mg/l CaCO3

Concessionária

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Telefone
n.d.

Fax
n.d.

Morada
n.d.

E-mail / site

n.d.

 

 


Local da nascente e ruínas da antiga casa que a abrigava



A casa da nascente na década de 1930 (In Acciaiuoli 1937)




Paisagem para Oeste do local da nascente