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[A nascente do paredão da praia]

 

Época termal
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Indicações

Doenças de pele e do aparelho digestivo.

Era para mal de pele que vinham cá mais… (proprietária do Balneário da Praia). 

Tratamentos/ caracterização de utentes

Estas termas deixaram de funcionar em 1922. A época balnear ia de Maio a Novembro. Mas no parque em volta do antigo balneário ainda persistiram por muitos anos as grandes “banheiras em pedra”, onde os aquistas tomavam os seus banhos ao ar livre, transportando a água da nascente da praia.

A actual exploradora do “balneário da praia” ainda recorda esses tempos, e mesmo depois até finais da década de 70, os banhos de chuveiro que fornecia: “Nós tínhamos aí um duche, na rua e uma bomba que puxava água ai do poço, mas depois aquilo secou”  

 

Instalações/ património construído e ambiental

O edifício dos antigos banhos, embora remodelados, ainda se conserva, serve actualmente de Jardim-de-infância. É uma construção acastelada, de planta quadrada com quatro torres nos seus ângulos, onde foi acrescentado um piso dos lados entre as torres. Na praia existe ainda a estrutura de uma nascente, para a qual se descia por uma escada protegida por uma construção circular, em forma de poço coberto, sobre a qual foi colocada uma lápide com a seguinte inscrição:
Banhos da Misericórdia de/ Cascaes/ No Anno de 1861 Sendo Provedor F.N. Ferr./
Teve começo esta obra/ Foi Ultimada em 1862 Sendo Provedor / O General C. Mendes.
Nenhuma das nascentes é actualmente visível, até meados da década de 80 ainda corria para a areia da praia uma bica de água que os últimos conhecedores aproveitavam para curas, mas a falta de controle de qualidade da água e o crescimento da urbanização nos arredores obrigou a sua canalização para a rede de esgoto.

O proprietário do balneário da praia tem outra opinião sobre o desaparecimento da água mineral da Poça: O que ficou aqui foi esta coisa feita pelo meu pai, ele fez aqui este poçozinho e depois as águas continuavam para a praia, mas com as obras e infra-estruturas feitas a montante os filões começaram a desviar e água também se começou a extinguir daqui.

 

Natureza

Cloretadas sódicas (27º)    

 

Alvará de concessão

Alvará de concessão 28/7/1894 a favor da Empresa de Banhos da Poça em São João do Estoril

Anulado pelo Ministério da Guerra em 1922

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Historial

Na praia do Forte da Cadaveira, junto de uns rochedos dava-se a emergência destas águas, que formavam poças onde os doentes se banhavam. Em 1835 os banhos eram explorados por Matias José de Oliveira Leite, e em 1842 a Misericórdia de Cascais solicita ao governo “ a cedência da posse das águas da Poça, sitas junto do forte de São Pedro da Cadaveira” (Ferrão, 2003).
O alvará régio de 18 de Fevereiro de 1843 concedeu à Misericórdia o direito de exploração destas nascentes termais. “Em Julho desse mesmo ano elaboraram-se as primeiras Regras Higiénicas ou Regulamento dos Banhos”   (Ferrão, 2003).
O estabelecimento termal era constituído por: “dois barracões em madeira de carácter provisório, destinando-se um à espera e outro aos banhos propriamente ditos. Todos os anos se armavam estas estruturas, procedendo-se, ainda, ao desentulho, limpeza e reencaminhamento da água da nascente [...] o barracão que cobria os banhos […] dispondo de divisões em madeira que formavam quatro quartos, cada qual com o seu tanque de pedra talhado na rocha…” (Ferrão, 2003)
Em 1860 o Ministério da Guerra concedeu à Misericórdia o Forte de S. Pedro, acima dos banhos, sendo então utilizados para alojamento dos aquistas. Dois anos depois, foi construído um novo balneário, também em madeira mas agora já de carácter definitivo, com oito tanques de banho, sala de espera e novos depósitos de água, servindo o antigo balneário para banhos a indigentes. A este balneário se refere a inscrição ainda existente na nascente da praia.
A Nascente da Poça, assim como as do Estoril (termas) e do Convento de Santo António no Estoril, fazem parte do Catálogo “Renseignements sul les Eaux minerales Portugaise”, elaborado por Agostinho Lourenço para a Exposition Universelle de Paris de 1867. Este Químico considerava não haver diferença na composição da água das duas primeiras nascentes, e a do Convento, embora semelhante tinha uma mineralização mais fraca. Quanto à temperatura a diferença era de 2 graus para as duas primeiras, 26º e 28º respectivamente, não nos fornecendo dados sobre a temperatura da nascente do convento. Quanto ao estabelecimento termal, Lourenço (1867,12) informa-nos: “L’établissement de bains est placé si prés de la mer, que ses eaux y pénètrent quelquefois, malgré les hautes murailles qu’on a construites pour le défendre. »           
A partir de 1890 a Misericórdia de Cascais inicia um processo para arrendamento dos banhos, que se vem a concretizar em 1894. Depois de um concurso público, foi celebrado contrato com uma Sociedade formada pelo Dr. Carlos Tavares e o Tenente-Coronel Jacinto Parreira. As cláusulas do contrato obrigavam, entre outras coisas, os arrendatários a construir um novo edifício “ com todas a condições da moderna ciência balnear”. (cit. Ferrão, 2003)
Este novo edifício contava com 28 cabines de banho dispostos em torno de uma sala de 200m2, onde se encontrava o bilhar, piano e zona de leitura, nas quatro torres encontravam-se os depósitos de água mineral e de água do mar. Sobre estas instalações escrevia-se no Correio de Cascais de 1889: “… são uma glória para a indústria nacional, pois são genuinamente portugueses todos os aparelhos que ali se encontram, desde as engenhosas torneiras, invenção do honrado industrial o Sr. Capucho, até aos duches, pulverizações e irrigações, que pelo mesmo industrial e pelo Sr. Júlio Ferreira foram construídos.” (cit. Ferrão, 2003).
Sarzedas (1903, 84) no seu Relatório de Inspecção Médica de 1902, relata que ele ainda viu: “…restos de tinas escavadas na própria rocha, que antecederam o balneário da Misericórdia, não sendo possível apurar a data aproximada do inicio da sua exploração” . Quanto ao estabelecimento termal ele foi descrito em tons elogiosos pelo Inspector Médico, quanto aos banhos eram feitos com água termal, água do mar e água comum. Contava ainda com as seguintes técnicas balneoterápicas: “Tem uma sala com os respectivos aparelhos para banhos de chuva, duche de agulheta e duche circular.
Uma outra sala com três inaladores, e ainda uma outra mais pequena com uma banheira com uma banheira para entrevados e um irrigador vaginal.”         
Em 1918 o estabelecimento serviu de hospital provisório às vítimas da pneumónica, ainda relembrado pela proprietária do balneário da praia: Aqui por cima estava cheio de banheiras, onde curaram a pneumónica …
Em 1922 o ministério da guerra “ que se arrogou ao direito de propriedade dos terrenos anexos ao forte de São Pedro e ao local onde se encontrava o edifício dos banhos” (Ferrão, 2003). O arrendatário, então Luís Filipe da Mata contestou esta medida, mas a 27 de Novembro de 1922 uma força militar “arrombando portas e ocupando militarmente todos os espaço que estavam consignados no arrendamento” (Ferrão,2003)  

Dos Banhos da Poça resta a memória de terceiros, lembrada pelo proprietário do balneário da praia: “...Eu sou mais novo dos irmãos, o meu pai morreu com 80 anos, ele é que sabia isso de datas e nomes, presenciou essas coisas todas… eu quando vim já aquilo tinha acabado. A única coisa que havia no meu tempo era aquelas pessoas que vinham aqui à praia com aqueles eczemas e não sei quê, e tomavam banho na água que corria e depois ficavam a apanhar o sol da manhã, acho que aquilo era mesmo bom, a água era mesmo boa.

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Alojamentos

Muitos e variados na zona turística de Estoril – Cascais

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Recortes

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Bibliografia

Acciaiuoli 1944, Acciaiuoli 1949-50, Brandt 1881, Correia 1922, Félix 1877, Ferrão 2003, Leal 1875-80, Leão 1898, Lepierre 1922, Lepierre 1896, Lourenço 1867, Pego 1894, Sarzedas 1907, Silva 1908, Le Portugal hidrologique e Climatique 1930-42,  Águas e Termas portuguesas 1918, Banhos Medicinais de Santo António do  Estoril 1850, Guia dos Banhos da Poça, em S. João do Estoril 1895.

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Dados gerais

Distrito
Lisboa

Concelho
Cascais

Freguesia
S.João do Estoril       

Povoação/Lugar
Praia da Poça 

Localização
Numa pequena colina junto da praia da Poça, na Costa do Sol - Estoril  

Província hidromineral
A / Bacia hidrográfica do Rio: Ribeiras de Costa      

Zona geológica
Orlas Meso-Cenozoicas

Fundo geológico (factor geo.)
Rochas sedimentares, predominantemente carbonatadas – calcários   

Dureza águas subterrâneas
200 a 400 mg/l CaCO3

Concessionária

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Telefone
n.d.

Fax
n.d.

Morada
n.d.

E-mail / site

n.d.

 

 


Inscrição sobre a nascente da praia




O antigo balneário é actualmente um Jardim de Infância