Tipo de exploração:
Termas concessionadas
Natureza da água:
Cloretada bicarbonatada
Indicações:
Aparelho digestivo, doenças de pele, circulação sanguínea
[A buvete da Fonte dos Frades]
Época termal
Maio a Outubro
Balneário de Santa Isabel (encerrado em 2003):
“Pele: dermatites e eczemas atróficos, psoríase, acne juvenil, eczema infantil, dermatoses crónicas e quelóides em cicatrizes”. (folheto de divulgação, 2002)
(Também aqui recolhemos a narrativa de curas milagrosas, constante a todas as “águas santas”: “Aqui o balneário é onde faziam os tratamentos para a pele. Vinha para cá um senhor da Nazaré, veio podre quando começou o tratamento, vinha mesmo podre, a gente até tinha nojo de passar por ele. Ainda existe a casa onde ele se hospedava, vinha duas vezes por ano, abalou daqui como nada ele tivesse. Ficou curado completamente, no último ano ele estava curado completamente. Á eczema verdadeira é que faz bem.”)
Balneário dos Frades:
Aparelho digestivo: doenças esófago gastroduodenais, colites e patologia hepato-biliar (funcional e orgânica).
Aparelho circulatório: varizes, hemorróidas, hipertensão arterial (controlada) e enxaquecas.
Aparelho respiratório: rino-faringites crónicas, sinusites crónicas, laringites crónicas, asma e bronquite crónica. (folheto de divulgação, 2002)
Tratamentos/ caracterização de utentes
Técnicas termais: balneoterapia (imersão, hidromassagem, semicúpio, enteroclise, irrigação; duches: filiforme, subaquático, de Vichy, escocês, lombar, circular).
Ventiloterapia: duche nasal e aerossol.
Fisioterapia: diatermia; massagem manual geral; massagem manual parcial.
Ingestão de água.
A frequência anual é em média de 1500 aquistas.
A aposta da actual administração é na prestação do chamado turismo de saúde, nas instalações do hotel Golfe-Mar.
Instalações/ património construído e ambiental
O núcleo mais antigo actualmente existente foi construído nos anos 1950, em volta das nascentes que formam o grupo de Santa Isabel. Aqui encontram-se os consultórios médicos. Defronte deste, uma nova perfuração para captação de água, a primeira oficina de engarrafamento, o balneário para doenças de pele (desactivado) e as piscinas, que até 2002 funcionaram com água mineral corrente, actualmente com água potável reciclada em circuito fechado.
Junto à estrada, no início da povoação, encontra-se a fábrica de engarrafamento, que esteve operacional até em 2005, altura em que foi construída uma nova unidade industrial de engarrafamento um pouco para NO. Ainda junto da estrada e na outra margem da Ribeira de Alcobrichel está o Hotel das Termas, recentemente restaurado e que pertence também às reformas da década de 1950.
Seguindo pela margem esquerda da Ribeira de Alcobrichel, e passadas as piscinas, temos do lado direito a abandonada casa do antigo concessionário Joaquim Belchior. A cerca de 500 m, o balneário da Fonte dos Frades, construção do final da mesma década, é dedicado aos tratamentos balneoterápicos e respiratórios.
Seguindo sempre no vale do Alcobrichel, por estrada particular com portagem, vamos entre colinas de escarpas calcárias que, a cerca de 2 km, se abrem sobre o mar, onde se encontra o terceiro núcleo do complexo turístico do Vimeiro, na Praia de Porto Novo, constituído pelo hotel do Golfe-Mar, construído no início da década de 1960 e totalmente reformado em 1973, com uma volumetria exagerada na pequena colina sobre a praia. Aqui se encontra o Clube de Saúde com os seus vários programas de “bem-estar”, além da zona de lazer da praia, campo de golfe, ténis, piscina e hipódromo.
Natureza
Cloretada bicarbonatada sódica (26º) (cf. Acciaiuoli 1950, I: 200-1)
Fonte de Santa Isabel: bicarbonatada cloretada, sódico cálcica, com uma mineralização total que ronda os 1100 mg/l (folheto de divulgação, 2002)
Fonte dos Frades: cloretada sódica magnesiana, com uma mineralização total que ronda os 3200mg/l (folheto de divulgação, 2002)
Alvará de 30 de Janeiro de 1896 a favor de José Pedro Cardoso.
Em 1920 os seus herdeiros obtêm o alvará de transmissão em nome da empresa Águas do Vimeiro Lda.
Em 1933 as termas foram postas em hasta pública e arrematadas pela CM de Torres Vedras.
Em 1945, novo alvará de transmissão a favor de Joaquim Belchior.
Em 2001 o grupo Espírito Santo adquiriu o complexo termal.
“Junto do convento de Penafirme , termo da vila de Torres Vedras, se acha uma fonte, cuja água é remédio eficaz de dores nephriticas, pela insigne virtude de que tem de desfazer, e expulsar as pedras, e areias dos rins, e bexiga”, escreveHenriques (1726: 100).Este convento de Penafirme, fundado em 1226 na margem esquerda do Rio de Alcabrichel, quase defronte da povoação do Vimeiro, pertencia à Ordem de Santo Agostinho.
Tavares (1810) também nos fala deste convento, das suas águas santas e dos seus banhos, referindo que são três os pertencentes ao convento, na margem sul: “Um deles é de abobada, dividido em duas casas com dois diversos banhos, feitos em caixas ou tanques de madeira, nos quais cada um pode admitir dez pessoas. Os outros dois têm paredes de pedra, são cobertos a madeira , e são de igual capacidade que o primeiro, com a diferença única de não ter divisão. O banho que está da banda Norte do rio pertencente a pessoa particular, tem dentro de uma barraca de pau, um tanque de pedra em que cabem três pessoas; correndo para ela, a água na distância de oito passos da origem e em tal altura que pode cair sobre a cabeça de quem esteja no banho.”
Com a secularização dos bens da Igreja (1834), o convento foi adquirido por um inglês de nome Sertorius, mas era já uma ruína em 1876 (cf. Baptista 1876), e é hoje inexistente.
Em 1845, o Dr. José Maria de Oliveira e Silva, ao fazer o relatório das águas minerais do concelho de Torres Vedras, refere que os banhos da margem esquerda “são administrados pelos compradores dos bens do convento, e, os da margem direita, pelo possuidor de quartos da Maceira, povoação mais próxima dos banhos”.
No catálogo “Renseignements sur les eaux minérales Portugaises” para a Exposição Universal de Paris em 1867, de Agostinho Lourenço, este médico escreve: “Il y a quatre sources qui jaillissent en grand abondance, dont trois sur la rive gauche, et l’autre sur la rive droite d’une petit rivière qui coule dans une gorge agreste, entre deux montagnes coupées à pic. Le site est agréable, riant, et les sources si bien situées, qu’il serait facile d’y organiser un bel establishment des bains. Les eaux sont limpides, sans goût ni odeur; leur température est de 24º C, celle l’air extérieur étant de 22º C.”
Lopes (1892) descreve o que existia à época como estabelecimento balnear, referindo-se às três nascentes da margem esquerda: “Aquelas são aproveitadas por bastantes doentes em quatro banheiras de alvenaria e forradas de madeira, e em dois tanques, cada dos quais com capacidade para 10 pessoas, tudo abrigado em 3 pequenas casas. Da outra nascente corre água para um tanque de pedra, em que cabem 3 pessoas, e para um duche, dentro de uma barraca de madeira.”
As águas foram analisadas por Lepierre em 1893, e dois anos depois o engenheiro Orey faz o relatório de reconhecimento para a concessão pedida: “Consta de quatro edifícios, dos quais o primeiro consta de uma sala de estar bastante espaçosa e dois quartos de banhos, tendo cada um, uma tina de forma rectangular, muito espaçosa. Ao fundo as parede são formadas por placas de calcário rijo; uma nascente muito abundante fornece água suficiente para encher, repetidas vezes por dia, estas duas tinas. Um pouco mais abaixo a uma distância de 16 a 20 metros, encontram-se duas casas muito mais pequenas, onde se acham instaladas duas tinas de banho, em compartimentos separados, em tudo semelhantes aos do primeiro edifício; uma segunda e terceira nascente alimentam, em separado, cada uma dessas banheiras. Um canal aberto junto às nascentes recolhe as águas depois de utilizadas, ou as que sobram, e as conduz ao rio Alcabrichel, que passa junto aos banhos. O terreno em que se encontram estas nascentes é formado por camadas de calcário mais ou menos duro, de cor parda azulada, alternadas com outras camadas de grés vermelho.”
O alvará de concessão da exploração foi dado a 30 de Janeiro de 1896, a favor de João Pedro Cardoso, mas a situação não se alterou no relatório de inspecção de Sarzedas de 1906 (1907: 140). As instalações hidrominerais eram as mesmas, o que levou o médico inspector a comentar: “O que lá há é o mais modesto que pode haver.”
Em 1920 os herdeiros do primeiro concessionário formam a Empresa das Águas do Vimeiro, que mandou demolir todas as construções para dar lugar a um novo balneário, mas o projecto nunca se concretizou. Os banhos eram então tomados nas poças formadas pelas nascentes.
Em 1933 a empresa foi colocada em hasta pública, sendo adquirida pela Câmara Municipal de Torres Vedras, mas o estado de abandono prologou-se até 1945, quando Joaquim Belchior toma conta da empresa.
Acciaiuoli refere, nos seus relatórios de 1939-43, que os banhos se tomavam dentro de improvisadas barracas montadas sobre as nascentes. Mas no relatório de 1946 a situação tinha mudado: “Passaram de mãos as cotas da empresa e a actual gerência mostrou desejos de melhorar as condições então existentes. E foi autorizada, provisoriamente, a transformar aquelas ruínas em balneário. Junto ao balneário ficou a oficina de engarrafamento, também provisória. E já em 1946, foram feitas 305 inscrições das quais 100 grátis; deram 5250 banhos de imersão e saíram 5000 garrafões de 5 litros.”
A partir deste ano a exploração das Águas Santas do Vimeiro não deixou de crescer, apesar da crise que o termalismo atravessou a partir da década de 1950.
“ O balneário depressa deixou de responder à procura e, em 1948, foi ampliado e melhorado, embora continuasse acanhado para os objectivos mais optimistas. O ano de 1949 marca o fim do conjunto de melhoramentos dos últimos anos: melhoria dos serviços e ampliação de áreas de tratamento, transformação da buvete e das secções de engarrafamento, instalação de salão de barbeiro, caixa de correio, papelaria e livraria e, finalmente, a inauguração do hotel das Termas, no dia 12 de Junho” (Mangorrinha 2000: 134).
Em 1954 eram inauguradas uma nova buvete e uma piscina de água termal, e dois anos depois uma nova piscina de água corrente, e em 1956 um novo balneário com as águas captadas na Fonte dos Frades.
No início da década de 1960 é inaugurado um novo hotel na praia de Porto Novo, ampliado em 1973, ficando com três piscinas, campo de golfe e centro hípico.
Joaquim Belchior foi um concessionário dinâmico, e a sua memória ainda persiste entre os frequentadores mais antigos, que se lhe referem em termos elogiosos: “Conheci tão bem o senhor Belchior. Se esse homem não morresse, ou o filho, isto cada vez estava melhor, de ano para ano, de cada vez que cá vínhamos havia novos melhoramentos” (aquista de 72 anos).
“Depois o senhor Belchior começou a fazer isto, então canalizou a nascente para aquelas torneirinhas que estão ali, porque antes a água corria pela rocha abaixo para a bacia de Santa Teresinha, onde está tapado com os azulejos, estava ali aquela poçazinha onde a gente ia beber água, até se enchia as nossas bilhas” (vendedor ambulante, 71 anos).
“Aquela casa em frente à piscina era a casa onde o senhor Belchior vivia, ele fez aquela casa para viver ali com a família, na época do Verão vinham sempre para ali com os filhos” (aquista de 70 anos).
Em 2001 o Grupo Espírito Santo adquiriu a empresa de Águas do Vimeiro, iniciando-se então uma reforma das unidades hoteleiras, piscinas, campo de golfe e do centro hípico, com vista a atrair um turismo não só termal. Iniciaram-se os tratamentos de talassoterapia e a empresa aposta actualmente no turismo de saúde e na construção de uma zona residencial de veraneio.
A exploração da indústria de engarrafamento de águas é outra aposta deste grupo económico. Em 2005 entrou em funcionamento um novo edifício industrial. Este foi também ano de seca, e no balneário dos Frades estava afixado o seguinte comunicado: “É do conhecimento público a grave crise que o país atravessa motivado pela pouca água de um prolongado período de seca que se regista. A gestão dos caudais de recursos de água mineral natural é uma preocupação constante, tendo por finalidade garantir que os parâmetros físico-químicos da água se mantenham inalteráveis. Os caudais acima referidos não são suficientes para o abastecimento do balneário por a nascente ter descido a um nível crítico. A defesa da qualidade da água mineral das termas do Vimeiro, comunica que iremos encerrar o balneário da fonte dos Frades a partir de 1 de Agosto. Para que não restem duvidas pelas razões desta decisão a Empresa de Águas do Vimeiro S.A., fará a divulgação das análises bacteriológicas, que semanalmente são efectuadas em laboratório oficialmente creditado. Estamos seguros que esta decisão, apesar de muito enérgica, garantirá que as termas do Vimeiro, poderão retomar em breve o seu normal funcionamento.
Maceira
A administração
Para os utentes contactados a razão é outra: “A gente tem a impressão de que o que roubou a água, foi aquele furo que está ali [na direcção do consultório]. Se o senhor for à espreita vê aquele furo tapado. A gente tem a impressão que foi esse furo que apanhou a veia desta água, porque eu tenho 71 anos, e sempre antes de nascer bebi desta água, aqui a correr pela rocha abaixo.”
Hotel das Termas, Hotel Golfe Mar, várias residenciais, pensões, aluguer de quartos e apartamentos turísticos na praia de Porto Novo.
JN – 19/8/04 (Alexandre Serôdio) – Termas do Vimeiro na rota do futuro – Reconhecido pela qualidade das águas o Vimeiro prepara o futuro. Destaque: Futuro termal é uma aposta no bem-estar
JN-22/3/03 (Paulo Pinto) – Mudança no Vimeiro - Termas- proprietário aguarda publicação de legislação para avançar com mais investimentos - aposta no turismo de saúde e em nova imagem
JN-31/3/03- Complexo do Vimeiro renovado serve como cartaz turístico
Acciaiuoli: 1936; 1937; 1940; 1941; 1942; 1944; 1947;1948a; 1948b; 1949-50; 1953. Almeida 1947, Almeida 1845, Andrade 1933, Baptista 1874-79, Brandt 1881, C.B. 1867, Carvalho 1944, Chernovitz 1878, Choffat 1893, Contreiras 1937, Contreiras 1951, Dias 1894, Félix 1877, Henriques 1726, Leal 1875-80, Lepierre 1894, Lopes 1892, Lourenço 1867, Mangorrinha 2000, Mangorrinha 2002, Morais 1947, Orey 1895, Ortigão 1875, Sá 1946, Sarzedas 1907, Silva 1908, Tavares 1810, Le Portugal hidrologique e climatique 1930-42, Águas minerais do continente e Ilha de S. Miguel 1940, Águas e Termas Portuguesas 1918, Anuário Médico-Hidrológico de Portugal 1963, Termas de Portugal 1947
Freguesia
Maceira
Povoação/Lugar
Maceira / Porto Novo
Localização
Na Ribeira de Alcobrichel, junto da sede de Freguesia de Maceira, constituindo um parque ao longo desta ribeira até à praia de Porto Novo.
Província hidromineral
A / Bacia hidrográfica: Ribeiras de Costa - Oeste
Zona geológica
Orlas Meso-Cenozóicas
Fundo geológico (factor geo.)
Na extremidade sul do Diapiro da Estremadura, as emergências dão-se em afloramentos calcários, numa zona onde predominam arenitos.
Dureza águas subterrâneas
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Concessionária
Empresa de Águas do Vimeiro SA
Telefone
261984157/8/9
Fax
261984621
Morada
2560-071 Maceira TVD
E-mail / site
“Das termas aos "spas": reconfigurações de uma prática terapêutica”
Projecto POCTI/ ANT/47274/2002 - Centro de Estudos de Antropologia Social e Instituto de Ciências Sociais