AVISO: A informação disponibilizada neste site tem como data de referência o ano 2002 e pode encontrar-se desactualizada.


[O Sr. João é pastor, tem 80 anos, veio para aqui rapazote, habita precisamente no local onde existiu a oficina de engarrafamento da Água de Casais da Charneca]

 

Época termal
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Indicações

Aparelho digestivo e rins (Contreiras, 1951)
“Esta água tem muita argila, eu dou-me bem com ela, como é água de nascente dá muito boa disposição. Agora já há uns tempos que cá não vinha. Mas por exemplo às vezes tinha assim uma azia de estômago e bebia e passava logo. Outras vezes tenho o estômago que parece intoxicado, bebo e fico logo bom” (utilizador da Fonte da Telha) .

Tratamentos/ caracterização de utentes

Ingestão

 

Instalações/ património construído e ambiental

Casais da Charneca - A captação faziam num poço de 12 m de profundidade. A cerca de 2 m do fundo um tubo de grés fazia a ligação à oficina de engarrafamento, localizada a 80 m a jusante do poço. A água desembocava num reservatório, abaixo do nível do solo, ao lado da oficina, com um caudal de 1,6 m3 em 24 horas (Andrade 1944, cit. Acciaiuoli 1947). Actualmente resta o poço protegido por construção, do qual o Sr. João extrai a água para seu consumo.
A Fonte de N.ª S.ª da Rosa – É uma fonte de chafurdo protegida por uma construção abobadada, ao fundo da qual se encontra um painel de azulejos setecentistas, em muito mau estado de conservação. O abandono a que está votada denuncia o seu pouco uso, que o Sr. João atribui a que “aquela água também era boa mas como a Santa Rosa foi ali enterrada, a malta deixou de gastar água dali.
A Fonte de Telha – Será uma outra emergência da mesma água, na escavação de um declive do terreno. Corre por uma telha e é procurada pelas suas qualidades digestivas.
O Vale da Rosa é descrito na Corografia (1706) como “um vale profundo que dele não se dilata a vista mais que a dos montes circunvizinhos”. Hoje nesses “montes circunvizinhos” avistam-se os últimos andares de urbanizações muito pouco planeadas, características desta zona sobrepovoada da península de Setúbal. Quanto ao vale, tornou-se há pouco mais de 30 anos propriedade dividida em lotes, o que permitiu a construção não licenciada. Mas pior que toda esta desurbanização foi a destruição de um convento referenciado desde 1413, que, segundo a Corografia (1706), “na arquitectura não é dos inferiores, que tem esta Província, pois tem os cómodos necessários para viverem nele trinta Religiosos, boas celas e excelentes oficinas”.
O sr. João é pastor, tem 80 anos, veio para aqui rapazote, habita precisamente no local onde existiu a oficina de engarrafamento da Água de Casais da Charneca, e bebe a água do poço que servia para a comercialização: “O poço é ali na parte de cima, tem umas paredes, parece uma casa de blocos, mas o poço está lá dentro. Eu tiro água à roldana, naquele tempo era uma bomba.”
Recorda-se ainda do convento arruinado que viu destruir, há trinta e tal anos: “Eu ainda me lembro, não era assim um convento muito grande, era assim um conventozinho, a princesa Rosa habitava aí, depois foi vendido, para uns e para outros, agora a última coisa que fizeram foi vender em lotes, está loteado mas eles não autorizam.”

Foi esse loteamento que permitiu a construção de um bairro clandestinos nesta margem do ribeiro, na freguesia do Monte da Caparica. Na outra margem é território da freguesia da Charneca e o processo de construção não é muito diferente, mas neste caso pela indiferença do proprietário, que é a Santa Casa da Misericórdia do Porto.

 

Natureza

Bicarbonatada, cloretada cálcica (Contreiras 1951)

“Está a ver, o ano passado não chegou a secar, deve ser uma veia bastante forte.” (utilizador da Fonte da Telha, referindo-se ao ano de seca de 2005)

Alvará de concessão

Alvará de concessão de Casais da Charneca.
1924 - Alvará de concessão, publicado no DG, n.º 117, II série, de 22/5/1924, a favor de João da Silva Tavares, com área reservada de 81 hectares.
1939 - Despacho ministerial considerando-a abandonada em 30/12/1939, publicado DG, nº5, 2ªsérie, de 6/1/1940.

1943 – Alvará de transmissão, publicado no DG, n.º 196, III série, de 24/8/1943, a favor de Armando da Costa Lima

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Historial

A fonte de Nossa Senhora da Rosa aparece mencionada na Corografia (1706) e no Aquilégio (1726), como pertencentes à cerca do convento, do mesmo nome, da Ordem dos Religiosos de S. Paulo: “Não consta do ano em se fundou este convento, mas só sabemos que no ano de 1413, já era habitado por eremitas” (Corografia 1706: 318). O fundador deste convento terá sido Mendes Gomes de Seabra, que o sujeitou à Ordem ao convento da Serra de Ossa, segundo a Corografia, que nos informa ainda que “foi tanta a devoção e amor, que tinham a este convento, que as mais qualificadas de sangue o elegeram para sua sepultura. A Capela Mor, que é de bastante arquitectura, é de D. Ana de Ataíde, que a mandou fazer para seu enterro, e de seu marido D. Jorge de Abranches, aonde os sepultaram no ano de 1575.” Quanto à fonte o texto é o seguinte: “Na cerca tem uma fonte com o nome de N.ª Senhora da Rosa, cuja água é milagrosa e tem virtude de curar a lepra”.
A fonte ainda lá está, embora em mau estado de conservação. Ficou também do antigo convento uma mina de água de farto caudal, que serve para rega de várias hortas. Quanto ao convento, um informante descreveu-o: “O tal convento ficava aí por cima, onde está essa casa, só que o que fez o loteamento, não sei porque razão, espetou com a máquina e arrebentou logo com a casa. Depois tinha as pedras […] espetaram a máquina porque era uma casa grande e tinha aqui uma vacaria, uma coisa antiga. No rés-do-chão tinha as vacas e em cima morava ele, estava velho mas as paredes eram boas.”
Essas pedras, segundo o Sr. João, tiveram o seguinte destino: “Os tipos que compraram isto desmancharam e venderam as pedras, umas estão ali na Quinta do Inglês e outras que levaram para outros lados, eram as pedras do convento.”
O que espanta nesta história é a sua proximidade temporal. Destruiu-se um convento referenciado desde do século XV na década de 70 do século XX, por uma muito primária especulação imobiliária. Actualmente a situação parece ter mudado um pouco, e as preocupações camarárias na conservação do vale com espaço verde parecem confirmadas. O senhor João referiu mesmo a visita de arqueólogos ao local para uma futura escavação arqueológica: “Tanto que esses senhores que cá estiveram me disseram, estava a pensar com uma máquina fazer uma indemnização [escavação] ao sítio que era o convento, para verificar se encontravam ali ainda resquícios de certas coisas, não se sabe o que lá está por baixo, porque ninguém mexeu, tiraram as paredes, mas o que está lá por baixo não se sabe o que está.”
Resta esperar que nessa recuperação deste belo vale se inclua a recuperação de todo o sistema aquífero onde em tempos era feita a captagem de águas para a freguesia da Charneca.
Quanto à água da Casais da Charneca, a sua origem vem da abertura dum poço para uso agrícola, mas a que logo se lhe reconheceram qualidades curativas. A história é mais próxima dos nossos dias. Foi analisada por Rego (1922), funcionário do Instituto Central de Higiene, que a classificou como cloretada sulfatada. O relatório de Acciaiuoli (1947) para os anos 1943-46 refere que novas obras de captagem tinham sido executadas e sobre a nascente tinha sido construído um pavilhão, iniciando-se a comercialização desta água em 1945, em garrafões de 5 litros, tendo saído nesse ano 1018 garrafões, e no ano seguinte (1946) 3032 garrafões.
O Anuário (1963) pouco adianta sobre a exploração e comercialização desta água, além de ser vendida em garrafas e garrafões, mas republica a análise de Carvalho (1945), que conclui que “ a água dos Casais da Charneca é fria, hipossalina, cloretada sódica e bicarbonatada cálcica, de reacção alcalina, levemente sulfatada e fracamente radioactiva. Esta alcalinidade (ausência de anidrido carbónico livre) distingue-se das águas potáveis de composição análoga. Há ainda a notar uma cota elevada de catião zinco e a presença nítida de arsénico.
A análise bacteriológica confirma o resultado de certas determinações químicas, mostrando que a água dos Casais da Charneca é muito pura e atestando a excelência da captagem.”

A comercialização desta água terá terminado no fim da década de 1960, por falecimento do proprietário, tornando-se herdeira do local a Santa Casa de Misericórdia do Porto, segundo informações do sr. João, único utilizador diário desta água mineral.

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Alojamentos

Vário tipo de unidades hoteleiras na Costa da Caparica, a 4 km.

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Recortes

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Bibliografia

Acciaiuoli: 1936, 1937, 1940°, 1940b; 1941; 1942; 1944; 1947; 1948°; 1948b;1949-50; 1953. Andrade 1944; Carvalho 1945; Contreiras 1937; Contreiras 1951; Costa 1706; Henriques 1998; Morais 1943; Rego 1940; Anuário Médico-hidrológico de Portugal 1963

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Dados gerais

Distrito
Setúbal

Concelho
Almada

Freguesia
Charneca da Caparica e Monte da Caparica       

Povoação/Lugar
Vale da Rosa  

Localização
O Vale da Rosa e o seu ribeiro delimitam as freguesias da Charneca e do Monte da Caparica. As duas primeiras nascentes encontram-se no Monte da Caparica e a terceira captação na freguesia da Charneca. Na EN 377, no lugar do Botequim, e antes de uma grande quinta abandonada, tomar a estrada para poente que leva a uma urbanização de vivendas; cerca de 100 m a norte destas vivendas, já perto do ribeiro, encontra-se o poço de captação da água dos Casais da Charneca. Passando o ribeiro a vau e tomando a direcção sul, a cerca de 200 m, junto de uma casa à beira do pinhal, temos a Fonte de N.ª S.ª da Rosa. A Fonte da Telha encontra-se a 80 m desta, já dentro do pinhal, num atalho que leva ao ribeiro.  

Província hidromineral
A / Bacia hidrográfica: Ribeiras de costa       

Zona geológica
Bacia Terciária do Tejo

Fundo geológico (factor geo.)
Rochas sedimentares, predominantemente arenitos.    

Dureza águas subterrâneas
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Concessionária

Uso particular

Telefone
n.d.

Fax
n.d.

Morada
n.d.

E-mail / site

n.d.

 

 


Recolhendo água na Fonte da Telha




Fonte da Telha




A fonte de N.Sr.ª da Rosa




O quase desaparecido painel de azulejos do séc. XVIII




A oficina de engarrafamento (In Acciaiuoli, 1944)