Tipo de exploração:
Termas concessionadas
Natureza da água:
Sulfúrea
Indicações:
Doenças músculo-esqueléticas, das vias respiratórias, e dermatoses
[O balneário]
Época termal
1 de Junho a 30 de Outubro
Reumatismo, dermatoses e doenças das vias respiratórias.
Tratamentos/ caracterização de utentes
Horário: 8-12h e 16-20h
Responsável técnico: Dr. Pedro Espinha Marques (geólogo – UP).
Director Clínico: Dr. Eduardo Miranda; 4 técnicos de balneoterapia.
Tratamentos:
Balneoterapia: Banhos de imersão simples, imersão com duche subaquático, duche de agulheta. ORL: Irrigação, inalação; pulverização e gargarejo.
“A procura é sobretudo para reumatismo e vias respiratórias, temos pulverização, inalação e irrigação. O número de aquistas anda pelos 800 e tal, 900. Uns 80% são pessoas da região, embora venha gente de fora, o ano passado tivemos dois franceses e um suíço, temos gente que vem de Lisboa, pouca, que essa vai mais para São Pedro do Sul, e gente do Porto e de Penafiel” (conversa com Manuel Soeiro)
Os programas de “bem-estar termal” e similares não estão nos horizontes da direcção destas termas, mas no entanto “há já muitos anos que temos por prática permitir três tratamentos sem ir a consulta médica. Toda a gente pode vir cá experimentar no máximo de três dias os nossos tratamentos, a partir do terceiro tratamento não permitimos porque pode haver problemas.”
Instalações/ património construído e ambiental
Almeida (1913) fala de três nascentes: da Beira Rio, para uso interno; a da Lameira, para duches e pulverizações; e a da Estrada, para banhos.
“Essas nascentes tradicionais foram anuladas. Agora as termas são alimentadas pelos furos AC1 e AC2, anulámos tudo porque começámos a ter vários problemas com análises. Fizemos dois furos num estudo feito pela A. Cavaco, pelo professor Simões Cortez, que é um dos craques na matéria, o AC2 para alimentar o balneário de cima, embora estejamos a utilizá-lo cá em baixo, e o AC1, que é mesmo aqui em frente e que alimenta todo este balneário. Tudo em tubo inox A16, que vai directo às banheiras, não temos qualquer depósito, porque a nossa temperatura das águas permite isso, é 45º na nascente.” (conversa com Manuel Soeiro)
O parque é um surpreendente espaço arborizado por enormes plátanos, formando um largo terraço sobre o Douro, obra dos tempos da famosa Ferreirinha que aqui tinha o seu palacete, separado deste parque pela estrada da Régua para Amarante.
No interior deste parque, fechado por um gradeamento e monumentais portões do século XIX, encontra-se o edifício do balneário Dr. João Araújo Correia e o edifício chamado das piscinas. O primeiro é uma construção rectangular de um piso com cerca de 500 m2, correspondente ao antigo balneário das Lameiras, sobre o qual na década de 1980 foi construído o complexo de alojamento. O edifício chamado das piscinas, ou balneário Dr. Francisco de Mesquita Montes, foi inaugurado em 1982, e actualmente não funciona como balneário termal por não se justificar em relação à frequência de aquistas, como justificou Manuel Soeiro, responsável pelas termas: “O que se passa com o balneário das piscinas, é que nós não tínhamos meios para rentabilizar aquilo. Então enquanto as termas estão fechadas, pusemos a funcionar como natação de lazer. Nós dizemos que está fechado porque não podemos misturar água fria, água da companhia, na água termal e para abrir aquilo como manda as regras tínhamos de só ter água termal, tínhamos de pedir a licença à DGS e isso tudo. Assim vamos servindo as pessoas, vamo-nos servindo a nós também e portanto está a funcionar neste momento com natação de lazer, só no período das 5 às 8 da noite.”
Quanto ao velho palacete da Ferreirinha e ao antigo hotel ambos em estado de pré-ruína, o primeiro é propriedade da Câmara Municipal da Régua e o segundo pertence à Junta de Turismo, entidade exploradora das Caldas. Projectos para estes dois edifícios ainda não há, existe sim uma comissão camarária encarregue do estudo e levantamento do existente. Manuel Soeiro afirmou a esse respeito que se a Câmara vier a optar pela recuperação do palacete para fins hoteleiros a Junta de Turismo cede o espaço do hotel: “Aquele edifício, na nossa perspectiva, era destruí-lo e construir no local um parque de estacionamento. Ou vice-versa, fazer o estacionamento do outro lado e ali um hotel. Mas isso está tudo nessa comissão de estudo que irá esclarecer as várias hipóteses.”
Natureza
Subgrupo das sulfúreas sódicas, hipotermal. Alcalino sódicas (Almeida e Almeida 1970)
Sulfúrea sódica (45º) (Calado 1992)
Águas mesotermais a 45º de temperatura e fracamente mineralizadas, ocres, com reacção alcalina, carbonatadas, bicarbonatadas, fluoretadas, sódicas e sulfúricas (in folheto)
1895 – Alvará de Concessão, publicado no DG nº 96, de 1/5, a favor de D. Antónia Adelaide Ferreira
1923 – Alvará de Transmissão, Publicado no DG nº 144, 2ª série, de 23/6
2005 – Portaria nº 285/2005 de 21/3/05, que aprova o perímetro de protecção imediato, intermédio e alargado. Responsável pelas termas: Manuel Soeiro
Fonseca Henriques, no “Aquilégio” (1726), chama-as de Caldas de Penaguião, mas só enumera as suas qualidades curativas, “semelhantes à das outras Caldas sulfúreas”. Cristóvão Reis (1779) designa-as por Caldas da Rede ou de Moledo.
Tavares (1810) escreve que “há quatro nascentes de água sulfúrea tanto na margem do rio, que facilmente são cobertas em qualquer inundação dele […] Por falta de comodidades (pois que o sítio não admite poder-se ali edificar casas ou barraca, e menos conservar-se em razão das enchentes) costumam para tomar banhos fazer covas na areia em que possam caber os enfermos, as quais se cobrem com cabanas de ramos de arvores, ou como é possível. Pela banda norte, destas nascentes há um lameiro murado, aonde o rio não chega, no qual aparece a mesma quantidade de água termal, e onde feitas as possíveis comodidades seria mais vantajoso o uso destas Caldas.”
Estas águas estiveram presentes na Exposition Universelle de Paris de 1867 e sobre as nascentes escreveu o médico Agostinho Lourenço (1867) no catálogo para essa exposição: “Il y a dix sources distribuées en trois groupes; cinq d’ente elles sourdent dans le lit même du Douro et ne sont mises à découvert qu’en temps d’étiage ; trois autres jaillissent à droite et deux à gauche de la route qui conduit de Régua á Amarante.”
Lourenço não refere nenhum estabelecimento balnear, mas Ortigão (1875) escreve que este se achava “muito melhorado” desde que era pertença do sr. Torres da Régua.
Lopes (1892) classifica-as da mesma forma que Lourenço (bicarbonatadas sódicas, silicatadas sulfídricas), e denomina as nascentes “pelo nome de Moledo ou Granjão, Corvaceira, Rede, Fontelas e Peanaguião”. Quanto ao estabelecimento balnear, comenta que “Estas caldas, já conhecidas nos primeiros anos do século passado, têm hoje um regular estabelecimento hidroterápico para banhos, duches, inalações e pulverizações.”
Mas à época em que Alfredo Lopes escrevia estas linhas, já o proprietário das Caldas de Moledo, José da Silva Torres, tinha falecido havia 12 anos, e as Caldas, embora arrendadas, pertenciam à sua viúva, D. Antónia Adelaide Ferreira, a famosa Ferreirinha. No início de década de 1880 esta empresária tinha terminado com a exploração por arrendamentos anuais das Caldas de Moledo, e no local construíra uma residência de veraneio, “o palacete”, que serviu de residência a D. Luís I na sua deslocação à região.
Em 1894, o relatório de reconhecimento do engenheiro Pacheco (1894) é de tom elogioso: “Transformou um amplo e atraente parque ajardinado, para passeio e distracção dos banhistas […] Reformou, radicalmente, o velho estabelecimento balnear, tão radicalmente que o tornou desconhecido dos seus antigos frequentadores, e conforme eu mesmo, que conheci as velhas termas, posso atestar. A falta de asseio desapareceu; foi aumentado o número de tinas; reformaram-se os velhos edifícios e construíram-se outros; ao lado dos banhos de imersão foi instalada uma magnífica sala de duches, tão completa que há quem afirme ser a primeira do género em Portugal; com os duches, foi instalado, também, um serviço, muito perfeito, de inalações e pulverizações.”
A concessão foi passada em nome de D. Antónia Adelaide Ferreira em 1895, e no ano seguinte faleceu esta senhora. As instalações que então existiam não deveriam ser muito diferentes das que Sarzedas (1907) descreveu: “A partir de cima para baixo, e em três pavimentos diferentes, assentam os estabelecimentos da Estrada, das Lameiras e do Rio. No primeiro há apenas a instalação de banhos de imersão, em quartos pouco espaçosos, é certo, mas bem cuidados em asseio. No segundo, o das Lameiras, há quatro corpos de edifício: três para banhos de imersão, em banheiras, e um destinado à instalação dos duches, que são variados e completos; e nesta edificação há também as instalações de pulverizações, inalações e irrigações. Todas as instalações das Lameiras estão em boas condições de aplicações. No terceiro pavimento, o do rio, uma barraca móvel de madeira, muito luxuosa e bem construída, onde funciona só uma banheira; e um pouco mais abaixo a ao lado, a nova instalação das piscinas, que é, a meu ver, de todas a melhor que possuem o estabelecimento termal de Moledo.
É também neste último pavimento que está a buvete, que destoa das instalações vizinhas, ao ponto de ser constituída sem os reparos que lhe são devidos, correndo nela a água termal por um cano de chumbo.”
No início do século XX a afluência a estas Caldas rondava os mil aquistas, e como instalações hoteleiras havia o Grande Hotel, o Hotel Vilhena e o Petit Hotel. O Casino e o parque à beira do Douro completavam o equipamento das termas.
Em 1923 os herdeiros da Ferreirinha venderam as Caldas de Moledo, tornando-se proprietário o coronel Miguel Evaristo Teixeira de Barros.
Pelo que se verifica dos relatórios de Acciaiuoli das décadas de 1930 e 40, o número de frequentadores tinha descido vertiginosamente, para abaixo dos 300 aquistas por ano.
O balneário continuou em funções nas décadas seguintes, mas sem renovações apreciáveis, e em 1962, a juntar à crise que o sector do termalismo, vieram as cheias do Douro, destruindo boa parte do balneário e das suas captações.
O complexo termal foi então vendido à Junta de Turismo das Caldas de Moledo, que inicia uma recuperação dos balneários e piscinas. Em 1971 as águas do Douro cobrem novamente as instalações. Desta feita não foram inundações, mas sim as águas da albufeira do Carrapatelo, cuja cota obrigou à demolição das piscinas e de outras instalações à beira-rio.
Com as indemnizações recebidas construiu-se um novo edifício para as piscinas, inaugurado em 1982 com o nome de Dr. Francisco de Mesquita Montes, em homenagem a este médico hidrologista que aqui exerceu clínica. Sobre o velho balneário das Lameiras, já à época unidos os quatro corpos em que se compunha originalmente, foram construídos os apartamentos hoteleiros.
Actualmente encontra-se em funcionamento o balneário das Lameiras, baptizado de Dr. João Araújo Correia. Quanto a projectos futuros, a Junta de Turismo aguarda as decisões de um estudo da Câmara Municipal sobre todo o conjunto urbano das Caldas de Moledo, que esperemos venha a ser tão belo e tranquilo como o seu enquadramento paisagístico.
Sobre o balneário foi construído no início da década de 80 um complexo hoteleiro com 10 apartamentos T1, cuja exploração foi concessionada à empresa Tridurius, que pelo contrato de concessão deveria também explorar um restaurante no balneário das piscinas, mas tal nunca se veio a concretizar.
JN - 21/1/04 (Almeida Cardoso) – Termas das Caldas de Moledo renovadas – Espaço aprazível , situado na margem do rio Douro recebeu 750 aquistas em 2003. Destaque: As cheias do Douro às vezes deixam marcas.
JN - 11/6/00 (Fernando Seixas) Termas de Portugal – Caldas de Moledo buscam brilho de outrora – Com uma frequência a subir de ano para ano, a estância termal do concelho de Peso da Régua vem melhorando as instalações. (Destaque: Uma vida atribulada cheia de altos e baixos)
Acciaiuoli: 1936; 1937; 1940; 1941; 1942; 1944; 1947;1948a; 1948b; 1949-50; 1953, Almeida 1948, Almeida 1970, Almeida 1913, Alves, Azevedo, Almeida e Leão 1871, Azevedo 1867, Baptista1874-79, Bastos 1934, Brandt 1881,Brito 1945, Castro 1762, Castro 1894-95, Contreiras: 1930; 1937; 1941; 1942; 1951. Correia 1923, Correia 1943, Costa 1909, Costa 1942,Costa 1819, Félix 1877, Florido 1899, Gusmão 1871/72, Henriques 1726, Leal 1875-80, Leite1930, Lepierre 1926,Lepierre e Carvalho 1937, Lepierre 1936, Lopes 1892, Lourenço 1867, Melo 1932 ,Mira 1948, Miranda 1921ª, Miranda 1921b, Morais 1943, Narciso: 1920; 1920b; 1925; 1933; 1934; 1948. Neiva 1946-47, Ortigão 1875, Pacheco1894, Reis 1779, Sarzedas 1907, Silva 1895, Silva 1908, Tavares 1810, Torres1886, Vale 1845, Vasques 1894, Vaz 1842, Viana1898, Águas minerais do continente e Ilha de S. Miguel 1940, As águas de S. Pedro do Sul 1904, Águas e Termas Portuguesa 1918, Anuário Médico-hidrológico de Portugal1844, Caldas de Moledo 1896-97, Caldas de Moledo – Legislação e Regulamento 1899, Moledo termal 1921,Caldas de Moledo 1934, Le Portugal Hydrologique et climatique1930-42, Termas de Portugal 1947
Freguesia
Oliveira
Povoação/Lugar
Caldas de Moledo
Localização
Em Caldas de Moledo, na margem direita do Douro.
Província hidromineral
B / Bacia hidrográfica do Rio Douro
Zona geológica
Maciço Hespérico - Zona Centro-Ibérica
Fundo geológico (factor geo.)
Rochas metamórficas (xistos)
Dureza águas subterrâneas
0 a 50 mg/l CaCO3
Concessionária
Junta de Turismo de Caldas de Moledo
Telefone
254321762
Fax
n.d.
Morada
Caldas de Moledo
E-mail / site
n.d.
“Das termas aos "spas": reconfigurações de uma prática terapêutica”
Projecto POCTI/ ANT/47274/2002 - Centro de Estudos de Antropologia Social e Instituto de Ciências Sociais