Tipo de exploração:
Termas concessionadas
Natureza da água:
Sulfúrea sódica
Indicações:
Reumatismo, Vias respiratórias e dermatoses
[O balneário]
Época termal
De Maio a 31 de Outubro
Reumatismo bronquites e pele (Acciaiouli 1938)
Reumatismo, sífilis, aparelho respiratório, doenças de pele e de senhoras (Contreiras 1951)
“As principais indicações situam-se na área da prevenção e cura de doenças ortopédicas, doenças de reumatismo, doenças das vias respiratórias, sinusites e doenças da pele” (folheto de divulgação)
Outra utilização que dão à água é a de lavagem de roupa. Num recanto do terreiro termal encontra-se um lavadouro público que trabalha com água termal, bastante concorrido “por branquear muito bem a roupa”.
Tratamentos/ caracterização de utentes
Responsável Clínico: Dr. Morais Ferreira.
Frequência no ano 2002: 800 aquistas, na maioria originários da região; Agosto e Setembro são os meses mais frequentados.
Horário: 7-12h e 16-19h.
O balneário tem capacidade para receber 5000 aquistas por ano, quando estiverem terminadas as obras. Actualmente está a funcionar metade do balneário. Em 2004 está previsto entrar em funcionamento a piscina.
Tratamentos:
“Balneoterapia: banhos de imersão simples, aerobanho, subaquático e hidromassagem computorizada; duches de jacto, lombar, de coluna, filiforme, manupediduche e com massagem de Vichy. Vapor: Banhos de vapor aos membros e integral. Aplicações de lamas. ORL: Nebulização individual em bancada e colectiva em câmara, irrigações nasais e retro nasais, aerossóis, duche faríngeo-filiforme, gargarejos e pulverizações.” (folheto de divulgação)
O tratamento mais procurado é o de lamas, com lamas francesas que se envolvem em panos com poliéster. Segue-se a hidromassagem, depois o duche Vichy, e por último os tratamentos ORL.
Em 1947, Victor Macedo Pinto, director clínico das Caldas de Aregos, dizia na sua Comunicação ao I Congresso Luso-Espanhol de Hidrologia: “A utilização das águas minerais está baseado no mais puro empirismo […] A associação da balneoterapia sulfurosa e da ingestão de água termal, como tratamento específico da sífilis, sempre que se utiliza o mercúrio ou o bismuto, é tão vantajoso e de tanta importância que, sendo possível, devem constituir regra invariável a junção dos dois tratamentos […] como tratamento adjuvante da sífilis, o que constitui uma segura especialização desta Estância Termal.” (in Actas 1947).
Instalações/ património construído e ambiental
O balneário encontra-se ao centro de uma enseada do Rio Douro, que forma um enorme terreiro (cerca de 3 hectares) delimitado a sul pela EN-222 e a norte pelos cais de recreio e praia fluvial do Douro.
O actual balneário é uma construção de final da década de 1990, que peca pela implantação espacial (cerca de 1000 m2) na pequena enseada fluvial, e por não ter criado nesta implantação uma relação volumétrica com a capela. É de boa arquitectura. Embora não tenhamos visitado mais que o átrio, pareceu-nos que a organização e divisão dos espaços internos é funcional e agradável, mas não se percebe a função do grande átrio vazio, coberto por vidros, quase um “solaris”, que será impossível de refrescar em dias de sol. Será para uma futura construção de piscina com jardim tropical tipo termas japonesas?
No enorme terreiro em volta do balneário encontra-se ainda, para oeste, a capela de S.ª M.ª Madalena, templo de origem medieval, reformado do final do período renascentista (o maneirismo português), como denuncia o seu pórtico. Na parede lateral deste templo estão marcados os níveis a que chegaram as águas nas cheias de 1909 e 1962.
Num recanto do lado sueste o lavadouro público, que trabalha com água termal, é uma construção simples, com vários tanques de lavagem cobertos por telheiro. Este lado do terreiro é fechado por uma construção em correnteza, em fase final de obras quando da visita, de dois pisos, sendo o piso térreo destinado ao comércio, com um passeio que dá acesso à praia.
Actualmente a água é captada por três furos a uma profundidade de 60 a 62m, o furo AC1 encontra-se selado, o AC2 fornece o balneário e o AC3 o lavadouro.
Natureza
Sulfúrea sódica, muito radioactiva pelo rádon (Acciaiouli 1938 e Contreiras 1951)
Bicarbonatada sódica sulfúrea (61º) (Calado 1992)
Sulfúreas, bicarbonatadas, sódicas e fluoretadas (62º) (folheto de divulgação).
1909 - Diário do Governo, nº148, de 7 de Julho, alvará de concessão.
1913 - Diário do Governo, nº51, de 4 de Março, alvará de transmissão.
1919 - Diário do Governo, nº152, II série de 3 de Julho, Alvará de transmissão.
1923 - Diário do Governo, nº143, II série, de 22 de Junho, Alvará de transmissão.
1984 – Alvará de concessão, de 11 de Julho
1997 - Contracto actual, assinado a 6 de Novembro, entre o IGM e a empresa Sotermal – Sociedade Turística e Termal, SA
“Toma-se os banhos em uma casa onde sai o manancial mais copioso, e junto a ela está uma Ermida da invocação de Santa Maria Madalena, cujo administrador tem obrigação de fazer prontas certas camas para comodidade dos enfermos” (Aquilégio 1726)
A ermida e a obrigação descrita no “Aquilégio” foram instituídas por D. Mafalda, mulher de D. Afonso Henriques, ou segundo outros autores, por Santa Mafalda, filha de Sancho I, que aqui edificaram uma gafaria, instituído também uma barca de passagem do Douro.
Mas a vizinhança da cidade romana de Cárquere e o porto fluvial que Aregos sempre representou tornam muito plausível a utilização e conhecimento destas nascentes desde da época romana.
A gafaria instituída pela Rainha ou Santa Mafalda não parece ter sofrido grande alterações até aos finais do século XVI, época em que a ermida deu lugar a uma capela com a mesma invocação, o que corresponderá possivelmente a uma reforma também do tanque de banhos.
O mesmo tanque aparece descrito nos Quesitos aos Párocos do Marquês de Pombal (1758) pelo Abade João de Paiva: “O tanque está no meio e dentro duma casa térrea, chamada hospital, a qual, além de ser muito pequena, se acha quase destruída dos preparos para assistência dos doentes”. (cit. Acciaiuoli 1944, II: 85). Após esta data deve ter sofrido alguns melhoramentos, pois Frei Cristóvão dos Reis (1779) descreve-os como sendo dois os tanques “de águas sulfúreas muito quentes, divididos com tabuado e em quartos separados, para tomarem banhos e suores, homens e mulheres”.
Tavares (1810: 65) volta a referir o tanque e a albergaria: “Junto aos ditos nascentes erigio Santa Mafalda uma Albergaria com tanque dentro, e sempre prontas duas camas para outros tantos pobres. Diz Cardozo no Dicionário Geográfico, que ali houvera um hospital até ao ano de 1644, cujas rendas se disposera a favor de um particular.”
Mas este autor refere ainda a utilização dada a esta água sulfúrea para além, da ainda existente, lavagem de roupa: “Os moradores das Caldas empregam no uso da cozinha, amassando igualmente com elas o pão, e nem este nem as iguarias cozidas nelas dão o mais remoto indicio do seu sabor e cheiro.”
As suas águas foram pela primeira vez analisadas por Agostinho Lourenço em 1867. Nesse mesmo ano o engenheiro Schiappa de Azevedo, no seu relatório de visita às termas do Norte, escreve sobre estas Caldas: “Estes banhos, que parecem ter gozado de alto favor em tempos passados, hoje são apenas albergue que convém não descrever. Pertencem aos povos do Concelho, e esta circunstância, junta com a falta de comunicações e proximidade das Caldas de Moledo, explicam os poucos cuidados que esta estação termal tem merecido.”
Em 1879 é inaugurada a linha férrea do Douro, traçada na margem oposta do rio mas com uma estação que servia Aregos.
Em 1892 o albergue achava-se em ruínas, como se depreende da descrição de Lopes (1892: 137): “O antigo estabelecimento termal, hoje propriedade particular, é modesto e administrado sem direcção médica. Parte dele, o banho da Albergaria, o mais antigo de todos, construído no séc. XII pela rainha portuguesa D. Mafalda, para uso exclusivo dos pobres que ali encontravam hospitalidade e tratamento balnear, está hoje em ruínas. O restante apesar da celebridade que antigamente gozavam estas termas, e da fama que ainda hoje têm, é bastante defeituoso desde a captagem das águas até às casas baixas e pouco abrigadas, dentro dos quais são tomados os banhos. É porém muito frequentada nos meses de Junho a Outubro.”
Devido a esta grande frequência de aquistas começaram a surgir, no início do século XX, vários casas para banhos, aproveitando as várias nascentes. No relatório de reconhecimento de elaborado pelo engenheiro Melo (1909), para o pedido de concessão, são enumeradas as seguinte casas para banhos: “Banhos da Figueira, explorados por António Joaquim Correia; Banhos do Ribeiro, explorados pela viúva de José Pedro do Cabo; Banhos de Santa Luzia, Albergaria e D. Ana, explorados pela Sr.ª D. Maria José Pinto. Todas estas instalações são muito deficientes para tão numerosa clientela e a maior parte delas são muito acanhadas, sem luz e com pouco ar, o que as torna verdadeiramente infectas, devendo, por isso, ser demolidas, para darem lugar a uma instalação conveniente”.
Em 26 de Junho de 1909 a exploração das águas minerais de Aregos passa a ter um alvará de concessão. Na véspera do Natal desse ano as águas das cheias Douro cobriram as Caldas de Aregos com quase três metros de água.
Em 1914 é inaugurado o balneário e Hotel do Parque, que o Eng. Alcorofado descreve como “o estabelecimento de maiores proporções e importância destas Termas […] As secções de banhos de imersão para cada um dos sexos são analogamente constituídas, cada uma, por 6 cabines, bastante espaçosas, bem iluminadas e ventiladas, dotadas de banheiras de mármore e ferro esmaltado, de muito boa aparência e em confortáveis condições. As duas secções de duches para cada um dos sexos, também convenientemente instaladas, em salas espaçosas e higiénicas”. Neste texto são descritos mais três estabelecimentos termais de qualidade muito inferior.
Em 1923 a concessão foi dada à Companhia das Águas das Caldas de Aregos, e três anos depois o engenheiro Andrade (1926) elabora um anteprojecto de captagem, que embora aprovado de imediato, só veria as obras iniciadas em 1937, finalizando-se em 1941 com a construção do túnel e chaminé de arrefecimento das águas.
No relatório de 1938 da Inspecção de Águas, Acciaiuoli (1938) escreve: “Foi visitada várias vezes, durante os trabalhos complementares de captagem. Porque havia muitos abusos da parte dos habitantes de Aregos e das vizinhanças, empregando para banho as águas minerais que caem no lavadouro público, foi, por despacho ministerial determinado que esta Inspecção mandasse fechar durante a noite a água mineral que corre para o lavadouro. Não foi possível, apesar desta determinação, conseguir que este abuso acabe de vez.”
Em 1944 era aprovado o projecto de construção de novo balneário, que em finais de 1946 já se encontrava concluído e equipado. Era uma construção ao gosto monumental do Estado Novo, que se desenvolvia em forma de L , com dois piso - no piso térreo encontrava-se a buvete num átrio amplo, os consultórios médicos e os tratamentos ORL, no piso superior estavam os banhos e duches. As caldas tinham então uma frequência de 2000 aquistas/ano.
As cheias de 1962 e de 1966 inundaram o balneário. Com a construção da Barragem do Carrapatelo, cujas comportas fecharam em 1972, a subida das águas provocou um aluimento de terras que entulhou a Ribeira da Cesta, inundando os balneários. Apesar desta sucessão de catástrofes exploração termal, embora deficitária continuou ainda por alguns anos, mas em meados da década de 1970 o balneário encerrava.
Em 1984 a concessão foi dada à empresa Famisa, sedeada em Leça da Palmeira, com a obrigação de construir um novo balneário e hotel, o que só se seria concretizado em 1992 , iniciando o balneário a sua actividade, mas sempre de forma deficiente.
Em 1997, por alvará de transmissão a concessionária passaria a ser a empresa Sotermal – Sociedade Turística e Termal SA, situação que se mantém actualmente, não estando ainda concluídas todas as obras interiores e de instalação de equipamentos programados, mas “podemos dizer que está metade do balneário a trabalhar, prevemos que para o ano [2004] se abra a piscina” (Gilson Loureiro).
Douro Park Hotel (254870700), Hospedaria Portugal (254875118, Pensão Comércio (254875267), Pensão Avenida (254875317), Quinta da Graça (254875317), Quinta da Carujeira (254875267), Alojamento C. Aregos (254875836).
JN – 16/6/04 (Almeida Cardoso) – Tratar físico e mente nas Caldas de Aregos – Caldas de Aregos são referência importante no mapa termal do país. Destaque: Entrar de muletas e sair sem elas.
JN – 6/8/00 (Fernando Seixas) Termas de Portugal – Caldas de Aregos até curaram Afonso Henriques – Com uma história que se confunde com as origens de Portugal, a estância do município de Resende recupera a boa imagem
JN – 4/5/98 (Paulo Sequeira) – Turismo a banhos em Caldas de Aregos – Plano de Pormenor é o único obstáculo ao desenvolvimento turístico que a estância termal deseja para recuperar tempo.
Acciaiuoli: 1936; 1937; 1940; 1941; 1942; 1944; 1947;1948a; 1948b; 1949-50; 1953. Alcoforado 1914, Almeida 1975, Andrade 1926, Ayuso 1946, Azevedo 1867, Baptista 1933, Baptista 1874-79, Bastos 1934, Bastos 1936-7, Brandt 1881, Bret 1860, Castro 1762, Castro 1894-5, Chernovitz 1878, Contreiras 1937, Contreiras 1951, Contreiras 1941, Correia 1922, Correia 1943, Costa 1819, Duarte 1992, Félix 1877, Forjaz 1948, Henriques 1726, Leal 1875-80, Leite 1930, Lemos 1889, Lepierre 1927-28, Lima 1943, Lopes 1892, Lourenço 1867, Magalhães 1954, Mangorrinha 2002, Melo 1908, Mira 1948, Morais 1943, Morais 1947, Narciso: 1920, 1925, 1933, 1947, Ortigão 1875, Paiva 1758, Pereira 1906, Pinto 1982, Pinto 1917, Pinto 1933, Pinto 1934, Pinto 1947, Pinto 1947, Reis 1779, Silva 1696, Soares 1914, Tavares 1810, Vale 1845, Valente 1886, Águas minerais do continente e Ilha de S. Miguel 1940, Águas e Termas Portuguesas 1910, Anuário Médico-hidrológico de Portugal 1963, Le Portugal Hydrologique e climatique 1930-42, Termas de Portugal 1947.
1625 – Carta Régia de 1 de Abril, sobre Lafões e Aregos.
1904 - As Águas de S. Pedro do sul comparadas com Vizela, Aregos, Moledo, Amélie-les-bains e Cauterets. In Medicina contemporânea, n.º 128, ano 11, vol. 4.
1933-1942 – Relatórios da Companhia das Águas das Caldas de Aregos
1946 - Armando Miranda realiza um filme sobre as Caldas de Aregos, com a duração de 35m.
Freguesia
Meiomais
Povoação/Lugar
Caldas de Aregos
Localização
Na margem esquerda do Douro, numa pequena enseada entre a EN-222 e o rio.
Província hidromineral
B / Bacia hidrográfica do Rio Douro
Zona geológica
Maciço Hespérico
Fundo geológico (factor geo.)
Rochas magmáticas (granitóides) com afloramentos xistosos
Dureza águas subterrâneas
0 a 50 mg/l de CaCO3
Concessionária
Sotermal – Sociedade Turística e Termal, SA
Telefone
254874001 /59
Fax
254875828
Morada
Caldas de Aregos - 4660 Resende
E-mail / site
“Das termas aos "spas": reconfigurações de uma prática terapêutica”
Projecto POCTI/ ANT/47274/2002 - Centro de Estudos de Antropologia Social e Instituto de Ciências Sociais