AVISO: A informação disponibilizada neste site tem como data de referência o ano 2002 e pode encontrar-se desactualizada.


[O Balneário de 1911 serve actualmente a restaurante do clube de Vela de Tavira]

 

Época termal
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Indicações

Doenças de pele e reumatismo

Tratamentos/ caracterização de utentes

Doenças de pele, reumatismo e doenças do aparelho digestivo.

Esse meu cunhado, quando veio para cá curar-se da doença de pele, era ainda criança, acho que o tratamento durou 3 anos, em tratamentos de um mês, porque era um caso de pele, mas normalmente duravam 15 dias, mas parece-me que isso dependia do estado em que uma pessoa vinha. Recordo-me que uma tia desse meu cunhado, que era solteira e o acompanhava quando vinha para cá, de contar que o tratamento era de um mês .“ (informante Adelaide Ramos)

 

Instalações/ património construído e ambiental

O edifício do balneário é uma construção de 1911. Construído sobre a captagem de água, uma bomba fazia a elevação para um depósito localizado no andar superior, de onde caía para uma caldeira de aquecimento a lenha, seguindo daqui para as cabines de tratamento, num total de 8 banheiras. Da captagem derivava para o exterior, uma bica de água para utilização pública, a bica ainda lá está mas seca. “Era hábito os tavirenses irem à fonte lavarem os braços, lavarem a cara. Aliás era um dos passeios de Verão, Tavira é uma cidade quente, só senti a temperatura das noites de Tavira em Marraquexe, com aquele ar morno que uma pessoa gosta de sentir.” (informante Adelaide Ramos)
Actualmente o espaço serve como restaurante do Cube de Vela de Tavira, mas conserva a estrutura, sala central que servia de espera e de repouso pós-tratamento – actual sala de jantar – para a qual comunicam oito cabines de banho, quatro de cada lado – actual cozinha e arrumos do restaurante. A meio da sala de jantar ainda se pode ver a velha bomba que bombeava a água para um piso superior.

Os antigos balneários estão incluídos numa zona de recente urbanização da cidade Em 1988 a água da nascente foi directamente desviada para o esgoto urbano (segundo Anica 2002). Todo este espaço correspondia ao antigo Campo da Feira: "Na Atalaia fazia-se a feira de gado, até havia uns versos sobre a Atalaia: “Eu dou de beber ao gado/ e a gente de toda a laia/ eu sou o poço da Atalaia”. Talvez a descoberta das propriedades da água estejam relacionados com os efeitos que elas faziam sobre os animais, depois relacionavam com a aplicação de curas de doenças. Havia também um poço, aliás havia vários na Horta de El-Rei. Também foi uma obra muito mal feita, destruíram os poços, deveriam tapá-los com um vidro acrílico mas deixaram-nos lá. Só ficou o poço da Lenda da Moura, esse puseram uma vedação à volta mas está lá, é a lenda do poço de Vaz Varela, em que uma moura encantada apareceu à noite. Aqui na Fonte da Praça a lenda é de três mouras que ficaram ali encantadas. Na Fonte da Atalaia não me recordo de nenhuma lenda." (informante Adelaide Ramos)

 

Natureza

Hipossalina Bicarbonatada cálcica, nitratada, mesotermal (25,4º) (Almeida, 66/I,75)    

 

Alvará de concessão

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Historial

Henriques (1726) faz a seguinte descrição do que intitula a “fonte quente de Tavira”: “Há uma fonte de que geralmente bebem os moradores, a qual se lança por quatro bicas abundante água quente em todo o ano; e sem dúvida passa por minerais imperfeitos, um dos quais é enxofre, que sempre se supõe na água que nasce quente, e porque serve para curtir peles, por ventura que seja como as Alcariças de Lisboa Oriental, e que sirva para curar achaques espúrios de nervos e juntas...”
Nunes Gago (1787), natural de Tavira, apresentou uma comunicação referente a estas águas, e conselhos sobre as várias doenças em que se pode aplicar a água (cit. Accaiuoli 1944, II: 94).
Tavares (1810) chama-a de “ Fontinha de Santo António" e afirma que "O seu sabor é agradável sobre o picante levissimamente, e os que se presumem de paladar exquisito pretendem senti-lo distintamente sulfúreo. Os que a bebem arrotam muito escassamente a ovos chocos.
João Baptista da Silva Lopes (1845), na sua Corografia do Reino do Algarve, descreve o lugar da fonte, a que chama de “Santo Antoninho”: “Brota esta fonte na parte mais alta do rocio, cujo solo é de rocha coberta de terra marmosa, onde nasce em abundância uns olhos de água, que até há pouco serviam para regadio. Esta água, que causava a quem a bebia uma sensação de gosto não comum, não era conhecida ainda assim por medicinal, quando o doutor João Nunes Gago, médico da mesma cidade, começou a fazer delas útil aplicação. Nasce esta água brandamente por entre fendas de uma rocha calcária, e em qualquer das três principais fendas é abundantíssima é constante a quantidade de todas em qualquer tempo.
São citadas por Bonnet, (1850) que refere a temperatura de 25º e o sabor picante devido ao CO2 (cit. Accaiuoli 1944, II:145).
 “Em 1862 decidiram os tavirenses fazer nela um aproveitamento termal a fim de substituir os antigos banhos públicos que desde o tempo dos Mouros existiam junto da Fonte chamada da Praça na Rua da Estalagem, os quais estavam antiquados.” (Anica 2002). Para tal constituiu-se uma comissão a que presidia o visconde de Tavira, conseguindo-se a verba para a concretização da obra em subscrições públicas e “bazares”.
Este balneário foi entregue à administração do Hospital do Espírito Santo, ficando a Câmara como proprietária do estabelecimento termal.
Alfredo Lopes (1892) ao descrever o “pequeno estabelecimento hidroterapêutico” refere seis tinas, “uma de pedra e as restantes de azulejo”, e estima o número de banhos numa média de mil por ano.
Deste balneário temos uma outra descrição, feita antes da sua renovação de 1911, que não coincide com a de Lopes (1892): “Apesar de ter cinco gabinetes, apenas dois são utilizáveis, por terem banheiras de pedra polida e susceptíveis de limpeza, enquanto que os três restantes têm piscinas soterradas e revestidas interiormente de azulejos que hoje se encontram completamente descolorados, não permitindo a menor garantia de limpeza encontrando-se o Banho nas mais péssimas condições higiénicas e sem que ofereça a menor comodidade a quem o frequenta, o que explica a justifica a progressiva diminuição da sua clientela que noutros tempos era numerosíssima”. As obras de renovação do balneário foram orçadas em “um conto e seiscentos reis mas que acabou por custar três contos e cem mil reis, como consta do relatório final”. (Relatório de 11/9/1911 do Livro de Registo e Orçamento do Hospital do Espírito Santo, João de Matos Parreira, cit. Anica 2002).
Em 1921 a Misericórdia de Tavira passou a administrar os bens do Hospital do Espírito Santo, onde se incluíam os banhos da Atalaia.
Em Outubro de 1960, Herculano de Carvalho fez as análises desta água, classificando-a de “Hipossalina Bicarbonatada cálcica, nitratada, mesotermal, alcalino-sódica-cálcica, emergindo à temperatura de 25,4º”.
Anica (2002) relata que a câmara de Tavira vendeu, em 1966, à Federação das Caixas de Previdência – Obras Sociais, 12.800 metros quadrados do Campo da Atalaia a 20$00 o metro, a fim de ali a dita Federação "instalar uma colónia termal com o aproveitamento da nascente mineromedicinal designada por Termas de Santo António de Tavira" (actas de 5-5-1966 e do 29-5-1966 da CMT).
O autor descreve o sucessivo desaparecimento de todo este imenso rossio onde se realizavam as Feiras de Tavira, dando lugar a zonas urbanizadas: “Quanto à prevista «colónia termal» da Caixa de Previdência, o «25 de Abril» se encarregou de transformá-la em fumaça revertendo à Câmara os referidos 24.021 metros quadrados por acordo de cooperação assinado em 15-12-1980”. Este acto seria oficializado por escritura em 1988.
Nesse ano, com as obras de urbanização deste antigo rossio, foi rebaixado o terreno junto da nascente, pondo-se a água a correr para os esgotos urbanos, já que desde meados dos anos 1960 a água não era utilizada com funções terapêuticas. No entanto, Almeida (1966), ao descrever os balneários, não menciona que estes já não funcionem.

Em 1996 a câmara de Tavira cedeu o edifício do balneário ao Clube de Vela de Tavira, “em regime de Comodato”, tendo este clube instalado aqui um restaurante, situação que se matinha aquando da visita (Maio 2003). "O que fizeram do Balneário não sei bem, com a transformação em restaurante penso que não conservaram nada, nem banheiras, nem torneiras! Foi uma pena, a Câmara deu aquilo para o desporto, que é muito bonito e muito bom, mas deviam ter salvaguardado as termas, fazia parte da história de Tavira. Na bica exterior estava sempre a água a correr, nunca secava nem descia de caudal, era constante. Era a mesma água que se utilizava para banhos. Como era por dentro não sei, mas tenho muita pena que Tavira tenha perdido o seu estabelecimento termal, era um museu, já não era utilizado, mas era importante para a história desta cidade. Não sei o que fizeram às banheiras, torneiras e outro equipamento que era todo em cobre, trabalhado ao gosto de «fim de século»" (conversa com a professora Adelaide Ramos)

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Alojamentos

Vários na cidade e arredores

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Recortes

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Bibliografia

Acciauoli 1944, Almeida 1966, Anica 2000, Anica 2001, Bonnet 1850, Brandt 1881, Calado 1995, Carvalho 1920, Carvalho 1960, Castro 1905, Chernovitz 1878, Contreiras 1937, Felix 1877, Gago1787, Henriques 1726, Leal 1875-80, Lopes 1892, Lopes 1988, Lourenço 1867, Narciso 1920ª, Narciso 1920b, Ortigão 1997, Roquete 1888, Silva 1810, Águas e Termas Portuguesas 1918,Le Portugal Hydrologique et Climatique 1930-42

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Dados gerais

Distrito
Faro

Concelho
Tavira

Freguesia
Tavira       

Povoação/Lugar
Tavira 

Localização
Na cidade de Tavira, na Atalaia, junto do Campo dos Mártires da República.  

Província hidromineral
A / Bacia hidrográfica: Ribeiras da costa algarvia      

Zona geológica
Orlas Meso-Cenozóicas

Fundo geológico (factor geo.)
Rochas porosas pouco consolidadas – conglomerados e silites glauconíticas   

Dureza águas subterrâneas
300 a 400 CaCO3 mg/l

Concessionária

Não está em uso. A exploração iniciou-se em 1863, sempre ligada à CM, embora os exploradores directos fossem o Hospital do Espírito Santo depois a Misericórdia de Tavira.

Telefone
n.d.

Fax
n.d.

Morada
n.d.

E-mail / site

n.d.

 

 


O interior do velho balneário convertido em sala de Jantar