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[O antigo balneário foi convertido em residência]

 

Época termal
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Indicações

Reumatismo doenças de pele
“Não resultará em tudo mas em algumas coisas resulta.”

“Nas dores de reumáticos faz muitos milagres.”


Tratamentos/ caracterização de utentes

“F - Tomavam banho e depois iam para a cama, a minha avó dava-lhes uns cobertores e ficavam ali quentinhas.

M - O banho parece que durava um quarto de hora, que ficavam ali metidos naquela água quentinha, depois saíam dali embrulhavam-se muito embrulhadinhas e metiam-se na cama, isto era no Verão, depois bebiam uma coisinha quente, e suavam, suavam. Olhe é o que lhe estou a dizer fez muitos milagres… mesmo muitos milagres. Olhe havia aqui um senhor em Castelo de Vide, chamava-lhe a água dos milagres, dizia sempre ‘para mim aquela água é santa, é santa!’. Eu até lhe achava piada, ele chamava-se Zé Carrilho, porque diz que ele teve um problema daqueles furúnculos, que havia noutros tempos que agora já não há disso, daqueles furúnculos grandes, não sei se o senhor alguma vez viu? Aqueles fermões quase cabrúnculas grandes, grandes, o homem disse que andava cheio daquilo, nas orelhas, no pescoço e em todo o lado. Tomava injecções em Santo António, com o doutor Machado, e não sei quem mais em Castelo de Vide, punha pomadas e não sei que mais, mas não dava nada, nada. Aquilo doía-lhe muito, ainda me lembro quando era miúda, o homem dizia: ‘Eu tomava tudo que me receitavam e nada, já julgava que estava todo podre’. Um dia disse assim para a mulher ‘Olha sabes uma coisa vou ir aos banhos à Ferranha’, e ela disse assim: “Olha para que havia agora de dar, se os medicamentos não te curaram, a de te curar a água, a água não te cura, deixa-te de parvoeiras”. Ele respondeu: “Não quero saber disso para nada, eu já tenho tido muita parvoeira agora tenho mais essa”. Depois dizia: “Não é que limpei total, total”.

 

Instalações/ património construído e ambiental

“Emerge do granito, formando um poço que transborda para um tanque de cimento coberto a madeira. Deste tanque a água é aspirada para uma casa, com 3 tinas em zinco e vários quartos que servem ao tempo do repouso dos aquistas” (Almeida 1962).

Esta descrição ainda coincide com o existente no que se refere à nascente, só que o tanque está actualmente coberto em quase toda a sua superfície por uma placa de cimento. Sobre este depósito, uma bomba de água leva a água para o antigo balneário, actualmente transformado em casa de habitação. Aqui a água era aquecida: “Tinha assim um calorífico assim grande, entrava água para dentro daquele calorífico e depois fazia lume por baixo, e depois vinha para umas torneiras “. Quanto aos quartos, eram em número de quatro.

 

Natureza

Sulfúrea sódica hipotermal/alcalino-sódica, 5000 l/ 24h (Almeida 1962).

“Aquilo tem assim uns limbos brancos, agora não sei se tem tantos, mas antigamente tinha. Aquele limbo que parecia clara de ovo e cheirava muito, a gente chegava lá e era um cheiro a ovos podres. Eles fizeram aí uma análise, tem muitos componentes, mas não se pode beber.”

 

Alvará de concessão

Proprietária: Cecília, filha de Francisco Costa, moradora na propriedade.

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Historial

A única referência encontrada é a de Almeida (1962), que descreve também o modo de acesso: pela estrada de Penedo Monteiro para Beirã, 2 km antes de Barreto, “serve de referência uma casa de pasto à beira da estrada do lado esquerdo”. Nas traseiras desta casa um caminho de 300 m leva ao Ribeiro das Águas, e a nascente encontra-se na margem direita.
O pai da actual proprietária, Francisco Costa, adquiriu esta propriedade na década de 1940. Embora no local já houvesse tradição balnear, possivelmente no tanque junto da nascente, foi ele que construiu o primeiro balneário e todo o sistema de bombagem, aquecimento e canalização da água para as três banheiras de zinco, que ainda se podem ver a proteger a actual bomba da nascente.
Já depois do 25 de Abril de 1974, a frequência diminui. Para Dona Cecília as razões foram, por um lado, o desafogo económico: “Começou as pessoas a ter mais dinheiro ao longo da vida, começaram a querer coisas mais de luxo, depois começaram a ir ao médico.” Outra razão foram os apoios dados pelo Serviço Nacional de Saúde ao termalismo: “Se por exemplo for para Nisa, o Estado dá uma percentagem, se for para aqui dá, se for para ali também dá, aqui não dava nada porque isto não estava legalizado, era uma coisa para aqui assim, então isto começou a perder.” A terceira razão prendia-se com a idade do proprietário: “Depois o meu pai, que Deus haja, começou-se aborrecer-se daquilo.”
Mas as qualidades da água, essas continuam. Para Dona Cecília é uma água milagrosa. Deu-nos vários exemplos de curas “milagrosas” em casos de reumatismo, furúnculos e eczemas, onde terá mesmo salvado vidas condenadas já pela medicina oficial.
Em 1974 houve um médico angolano interessado em adquirir estas termas: “Fizeram-lhe as análises todas, foi toda analisada e o senhor estava disposto a comprar a água, se não se tem dado o 25 de Abril a gente tinha feito um balúrdio de dinheiro com aquilo.”

A nostalgia de outros tempos foi patente na conversa da nossa informante, que concluiu de uma forma filosófica: “Olhe senhor era engraçado, olhe a vida agora não é tão engraçada. Era uma festa, e era tudo boa gente, conversava-se e distraía-se. Agora não sei, parece-me que é tudo muito artificial, agora a vida é muito artificial, dantes era mais modesta. Tão artificial, tão brilhante, mas este brilhantismo à vezes… de tanto brilha que encandeia.”

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Alojamentos

Os quartos mencionados normalmente só serviam para repouso após o banho, raramente para a pernoita de aquistas (Almeida 1962).

“M - As pessoas ficavam a dormir aqui, algumas, nem todas. Ninguém vinha passar férias ao Manuel Leonardo, mas de resto vinham todos a banhos. Ficavam 9, 11, 13, banhos, era sempre impar, mas ficavam uma data de dias. Ah! O meu pai que Deus haja, ainda fez muito dinheiro aqui com isto.”

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Recortes

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Bibliografia

Almeida 1962

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Dados gerais

Distrito
Portalegre

Concelho
Marvão

Freguesia
Beirã       

Povoação/Lugar
Bica  

Localização
Em Barretos toma-se a estrada para Castelo de Vide, e a 3,5 km, numa curva da estrada, surge o lugar da Bica. A nascente encontra-se a 80 m da estrada, dentro de uma propriedade, na margem de um ribeiro.  

Província hidromineral
B / Bacia hidrográfica do Rio Tejo      

Zona geológica
Maciço Hespérico – Zona Centro-Ibérica

Fundo geológico (factor geo.)
Rochas magmáticas ácidas e intermédias (granitóides)   

Dureza águas subterrâneas
50 a 200 mg/l de CaCo3

Concessionária

Uso popular

Telefone
n.d.

Fax
n.d.

Morada
n.d.

E-mail / site

n.d.